sexta-feira, maio 29, 2009

Zé Rodrix


"Eu vou te encontrar, em outras passagens dessa vida,
Quando tiver mais coisa pra dizer,
Eu vou te encontrar nas torres de 130 andares,
Por trás das malhas de vidro, caindo no esquecimento,
No futuro que eu não sei se haverá, vou te escutar,
Nas finas antenas de metal, vou ver teus desenhos no jornal,
Um rosto distante se apagando no meio da multidão. "
Desenhos no Jornal (Sá, Rodrix e Guarabira)


Primeiramente é um prazer retornar a este espaço abandonado durante a faculdade, e que hoje respira novos ares. Tentarei postar aqui pelo menos uma vez a cada 15 dias , revezando com o companheiro de blog Romano. Para brindar o retorno ao Let there be...., decidi escrever sobre meu mais recente companheiro de audição, que inexplicavelmente não sai mais do meu mídia player.

Desde o dia 22 de maio que estou sendo assombrado pelo vulto recorrente do músico Zé Rodrix. Tentando exorcizar as músicas que insistiam em tomar de assalto meu dia, decidi escrever sobre “Casa no Campo”, composição de Tavito e Zé Rodrix, que se tornou sua obra mais famosa na voz elegante de Elis Regina. Escrevi um texto, publiquei em minha coluna semanal do site Atibaia News e falei comigo mesmo:

- Agora Zé, dá um tempo! Descansa em paz .

E nada. Descobri em um momento de iluminação pessoal que o que sentia era um grande descontentamento em saber que todos conheciam a casa no campo do Zé. Na verdade acho que é a casa mais conhecida do Brasil. O encosto, o incômodo, o que impedia que a alma de Rodrix descansasse em paz em meu subconsciente na realidade era uma sensação de que morria anônima junto com o músico muitas de suas obras, e este idiota que vos fala só aumentou o mito de “obra única”, que impede a grande maioria de enxergar a densa carreira nos quintais da Casa do Campo. Portanto fica aqui um desesperado conselho: antes de prestar um minuto de silêncio, gaste algumas horas para conhecer a discografia deste músico iluminado.

O carioca José Rodrigues Trindade merece mais. Artista talentoso e compositor astuto no manejo das palavras, esbanjou malemolência ao definir nosso jeitão macunaíma de ser na composição “Soy Latino Americano” e de quebra colocou todos nossos vizinhos juntos, como se a Bolívia estivesse ali pertinho de Ipanema. Com os parceiros Sá e Guarabira constituiu uma das principais bandeiras da música nacional ao fundar o rock rural, uma espécie de folk tupiniquim. Sem exageros, o trio era nosso “Crosby, Still and Nash” e trouxe em apenas dois discos uma grande quantidade de canções memoráveis. Os arranjos de “Mestre Jonas” e o apelo de “Primeira Canção da Estrada” e “Pó da Estrada” mostram a fina sintonia do grupo, a qualidade estética do arranjo vocal e de cordas do seu trabalho e a exaltação da cultura “pé-na-estrada”, que pegou uma curva e aportou com alguns anos de atraso no Brasil. “Passado, Presente e Futuro” de 1971 e “Terra” de 1973, são referências quase obrigatórias na música popular brasileira, mas poucas vezes são lembradas.

Rodrix se aventurou em discos solo, gravou com a banda “Joelho de Porco” e por um tempo abandonou a carreira de músico para se dedicar a publicidade. Retornou a estrada em 2001, novamente com Sá e Guarabira.

Para encerrar, como a cereja de um bolo repleto de recheios e camadas eu coloco a música “Jesus numa Moto”. Cheia de idéias poderosas construídas através de expressões pouco prováveis, a música é uma catarse artística como poucas.




Pare e escute ! Quem não se interessou pelo talento do Zé depois de conhecer pelo menos um pouco de sua obra está condenado a pequenez da casinha de pau-a-pique e sapê. Não sei até quando as músicas do Rodrix vão me assombrar, mas acho que fiz minha parte.

Com licença que hoje é sexta, é dia de meter um Marlon Brando nas idéias e sair por aí!

quarta-feira, maio 27, 2009

Breakfast at Tiffany's (1961)



Quando meu amigo Armando convidou-me a escrever novamente para o LTBML, fiquei em dúvida. Estava parado há bastante tempo e sem muita inspiração para escrever. Porém, a vida é cheia de surpresas e, numa noite dessas, sem querer, acabei assistindo a um filme que há muito queria ver:

Ficha Técnica
Título Original: Breakfast at Tiffany's
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 115 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 1961
Estúdio: Paramount Pictures / Jurow-Shepherd
Direção: Blake Edwards
Roteiro: George Axelrod, baseado em livro de Truman Capote
Produção: Martin Jurow e Richard Shepherd
Música: Henry Mancini
Fotografia: Franz Planer e Philip H. Lathrop

Por mais tolo que posso parecer, ou até mesmo outro comentário mais maldoso. Enfim, era um filme que eu realmente queria ver. Sou um admirador dos filmes antigos, e em especial dos clássicos entre os anos 40 e 70. E com certeza os musicais da Metro eram fantásticos. Em todo caso, o importante é que esta película me inspirou e, por este motivo, cá estou para sugerir e dar a conhecer algumas das produções culturais de nosso tempo.

Comecemos com Breakfast at Tiffany’s. Como diz a ficha técnica, o roteiro foi baseado em um livro homônimo de Truman Capote escrito em 1958, e este teria imaginado a história para que Marilyn Monroe pudesse estrelá-la nas telas. A personagem principal é Holly Golightly, uma garota de programa que sonha em se casar com um milionário.

No livro de Capote, a personagem assume claramente sua posição de prostituta de luxo e, inclusive, possui uma inclinação à bissexualidade. Faz bastante sentido pensar em Marilyn em um papel como esse; não por qualquer motivo malicioso, mas pela mera constatação que a sua figura voluptuosa seria perfeita para a Holly do livro.

Porém, os deuses do Cinema quiseram que as coisas fossem diferentes. Marilyn era contratada da FOX e quem detinha os direitos de filmagem do livro era a Paramount. Desse modo, foi necessário encontrar uma nova Holly. Os produtores optaram por Audrey Hepburn que, até então, tinha interpretado somente boas moças.

Em uma jogada para adequar a personagem Holly à figura de Audrey, o roteiro foi bastante amenizado por George Axelrod, que também assinaria a adaptação de outro clássico, The Manchurian Candidate (Sob o Domínio do Mal), de 1962. Elementos como a bissexualidade e a volúpia foram suprimidos em favor da ingenuidade e de toques de humor.

Da mesma forma, quando Hepburn foi escalada para o papel principal o diretor também foi trocado. Inicialmente seria John Frankenheimer que, por coincidência, dirigiria o mesmo The Manchurian Candidate roteirizado por Axelrod. Então pressionada pela nova Holly Golightly, a Paramount contratou Blake Edwards para a direção de Breakfast. Edwards ficaria famoso, em especial, pela parceria com Peter Sellers nos longas com a personagem da Pantera Cor-de-Rosa.

Na primeira cena, em que Holly observa as vitrines da loja de jóias Tiffanys, ao fundo é possível ouvir a música Moon River, composta especialmente para a trilha sonora. A beleza austera de Audrey e a música de Henry Mancini são o prenúncio perfeito das características do longa.

O enredo gira ao redor da história dessa moça que fugiu de uma vida no campo e acabou em Nova Iorque, que acompanha senhores a festas e é paga “para ir ao banheiro”, que tem um gato chamado Gato, que se envolve com o vizinho escritor parecido com seu irmão Fred, que dá festas para a boemia nova-iorquina em um minúsculo apartamento. Uma mistura interessante de coisas que não deveriam estar misturadas, e que, inexplicavelmente, funcionam muito bem em Breakfast at Tiffany’s.

Capote com certeza não esperava que seu drama denso se tornasse “água-com-açúcar” nas telas dos cinemas, porém aconteceu. E, apesar de uma aparente superficialidade, Breakfast é um dos mais importantes representantes de um cinema que poucos ainda apreciam: aquele em que questões pesadas como prostituição podem ser abordadas com a beleza e a doçura de uma Audrey Hepburn.

Retomando os Trabalhos

Depois de três anos em uma viagem espiritual pelos bares da vida, discutindo filosofia com os maiores pensadores de boteco do mundo, eis que os autores do Let There Be More Light estão de volta.

Agora já formados jornalistas, caminhamos com o peso das nossas experiências e cicatrizes. Prontos para comentar literatura, cinema e música, de uma maneira descontraída e eclética; compromissados não com a quantidade, mas com oferecer textos de qualidade, para servir de referência e fonte de sugestões para o leitor que navegar pelo nosso blog.

(Ou para ler e falar “Que m....”)

Pois bem, estamos de volta!
 
Tema para Blogger Mínima 233
Original de Douglas Bowman | Modificado por :: BloggerSPhera ::