quarta-feira, agosto 26, 2009

Grand Funk Railroad

Boa noite, leitor ocasional deste blog.


A idéia para o texto de hoje é ser descompromissado. Não vou ficar exaltando aspectos técnicos ou enchendo você com informações que podem ser encontradas facilmente no Google.


Se você é um fã dessa banda, vá a um site especializado. Se você procura dicas e opiniões sobre boa música, aí sim você estará no lugar certo.


O nome homenageia uma estrada de ferro importante nos Estados Unidos, mas com certeza o som do Grand Funk Railroad se tornou muito mais famoso! Banda criada nos idos anos sessenta, em 1969 para ser exato, li que a crítica nunca foi muito positiva com relação ao grupo, alegando que os integrantes não eram músicos suficientemente bons e que o produtor era egocêntrico. O público, ao contrário, adorava!


Primeiro, deixo claro que não sou músico. Sou jovem demais e talvez não devesse ficar dando opiniões por aí, como uma psedo-crítico. Porém, não me considero um mau ouvinte e acho que tenho bom ouvido para música. Não consigo ouvir o som do Grand Funk, com seus trinta anos de idade, e pensar que seja ruim.


Pode ser aquela sensação que vive rondando as pessoas da minha geração, dizendo que o passado sempre foi mais bonito e glorioso, que nascemos na época errada e que tudo era tão melhor antes do que agora. Algo assim. Não sei.

Apenas me peguei fuçando CDs de MP3 e achei um álbum do Grand Funk – coletânea, por sinal – ao qual decidi dar a chance de uma audição mais aprofundada. O nobre amigo Japa, com o qual divido este espaço, já havia colocado umas músicas em CDs que escutamos em alguma bebedeira nos botecos da vida. “É o momento de ouvir de verdade”, pensei comigo.


Desde o sábado tenho ficado com as músicas na cabeça. A coletânea se chama Capitol Collector Series. Tem, acredito, as melhores canções do Grand Funk ao longo de sua carreira. Ainda não pude ouvir todos os álbuns, pois minha Internet não está lá essas coisas para baixá-los.


Mesmo assim, a versão de Gimme Shelter dessa coletânea está efusivamente insistindo para que eu ouça toda a discografia. E, lógico, farei isso! Sugiro, portanto, que você, meu amigo internauta bom de música, baixe já uma coletânea do Grand Funk para conhecer também um pouco dessa banda sensacional.

Recomendações especiais: Heartbreaker, Closer to Home, Mean Mistreater, Feelin Alright, e We’re an American Band. A primeira, por exemplo, realmente parte corações; não sei explicar como, mesmo porque meu inglês é pífio, mas parte; algo na batida, ou na voz, na guitarra... Feelin Alright te faz se sentir bem de verdade! E a patriótica We’re an American Band com certeza vai te lembrar umas outras tantas músicas daqueles anos; mesmo assim diferente. Quanto a Closer to Home, sem comentários (você vai entender ao ouvir).


Da coletânea, resta dizer que é perfeita para começar, tendo pelo menos uma música de cada álbum dos 17 anos de carreira. É perfeito também para pegar a estrada com o som no último num dia de sol! Se for em uma Harley então!


Tenho um tio turco (possuidor de uma belíssima Harley) que sempre me pergunta: “Sabe o que é isso que está tocando?”; Grand Funk, claro, mas eu nunca sabia. Pelo menos a banda agora eu vou saber, falta a experiência de ouvir em cima de uma Harley na rota 66.

quarta-feira, agosto 19, 2009

O Falcão Maltês - Dashiell Hammet



O livro o Falcão Maltês publicado originalmente em 1938 é considerado por muitos o romance policial mais importante da literatura. O estadunidense Dashiell Hammett imprimiu nas páginas de seu livro uma realidade dura e seca - verossímil e muito próxima ao cotidiano da sociedade em crise dos Estados Unidos da década de 30.

O resultado dessas linhas traçadas em um mundo irônico, mal e sem esperanças, habitado por detetives sem ética, policiais violentos e criminosos disfarçados entre os cidadãos comuns foi uma estética conhecida como noir.

A palavra vem do francês e significa “negro” e se difundiu pela literatura e pelo cinema caracterizada por diversos pontos técnicos específicos, mas tendo em comum a figura central de um protagonista representante da lei de caráter ambíguo e personalidade violenta.

No cinema em geral a estética é marcada pela fotografia em preto e branco, pela baixa iluminação, pelos ângulos de câmeras pouco convencionais e pela presença da narração em off do protagonista. O filme “The Maltese Falcon” de 1941, também foi um dos precursores da estética noir no cinema, dirigido por John Huston, eternizou a figura de Sam Spade na atuação de Humprhey Bogart, gerando um ícone comparativo para gerações e gerações de policiais e detetives durões no cinema.

Deixando de lado os aspectos técnicos e analisando o que todo mundo vê, a grande contribuição do romance escrito por Hammett foi uma mudança cultural na visão do detetive convencional e da mocinha indefesa. Um contraponto aos detetives de Agatha Christie e as donzelas virginais e indefesas foi criado em O Falcão Maltês.

O protagonista Sam Spade se tornou o modelo do detetive real, retirando de Poirot e Sherlock Holmes o manto de super-herói com a lupa que tudo enxerga. Spade é amoral, violento e egoísta, faz seu trabalho como ganha pão e não hesita diante da oportunidade de lucrar em cima da inocência de clientes ou da imbecilidade da polícia. Os crimes são solucionados através de uma investigação dedutiva, mas não genial, exigindo geralmente alguns socos e pontapés para chegar a conclusão derradeira – os músculos são tão importantes quanto o cérebro no cotidiano do detetive noir.

Sua postura, sua caracterização e seu “modus-operandi” se tornaram uma marca explorada até hoje, com diversas ramificações, tipos e caricaturas. O cômico Ed Mort de Luís Fernado Veríssimo, o detetive Patolino em episódio de desenho da Warner e o violento policial Hartingan da graphic novel Sin City; todos são netos bastardos de Sam Spade.

A contraparte feminina do romance, “Miss O´Shaugnessy”, é a inauguração de outro estereótipo que seria repetido à exaustão: a femme fatale. Sensual, supostamente indefesa e traiçoeira como uma víbora, a personagem feminina do romance noir geralmente é parte essencial da trama e transita entre vilões e protagonistas de acordo com seu interesse, utilizando todo o apelo do “sexo frágil”.

Os crimes, parte essencial da narrativa, são cometidos por profissionais em becos urbanos, sem testemunhas e de forma eficiente e pouco pirotécnica, nada de “ Coronel Mostarda, com o candelabro na Biblioteca”. As intrigas e as reviravoltas na trama são sempre verossímeis e as conclusões geralmente são pessimistas e desesperançosas.

Por isso engrosso o coro de fãs declarados do livro de Hammet. Mesmo antes de saber ler já estava exposto a diversas influencias do livro distribuídas em desenhos animados, séries de Tv e filmes para toda as idades.
Adaptado para vender óleo de motor no comercial de televisão, ou lançado para o futuro, na máquina do tempo do cinema, na pele do detetive Deckard(Harrisson Ford) de Blade Runner; a obra de Hammett não somente inovou como criou um molde difícil de ser superado.

Sam Spade com seu rosto anguloso em V pode aparecer no próximo best-seller, na próxima novela das oito ou na delegacia na esquina da sua casa, talvez nos três.

quarta-feira, agosto 12, 2009

Perfil - Scarlett Johansson



Começando pelo nome, essa nova-iorquina já tem um pé no estrelato. Marlene Dietrich, Greta Garbo, Sophia Loren, Grace Kelly, Audrey Hepburn, Vivien Leigh… Scarlett Johansson… Sim, soa muito bem incluída no panteão de divas do Cinema.

Peço desculpas, por antecipação, se o texto de hoje no LTBML for um pouco afetado pela minha afeição ao tema. Mesmo assim, tentarei passar o máximo de informações possíveis sobre a atriz que conquistou o posto de musa de Woody Allen.

De início, apenas contemplemos por um minuto a beleza clássica dessa jovem de 24 anos. Deus – ou qualquer força superior – foi sábio ao dar um irmão gêmeo a Scarlett ao invés de uma irmã. Algo na mistura dos sangues dinamarquês e polonês deu muito certo para a atriz, modelo e atualmente até cantora.


Bom, depois desse momento relaxante, sigamos em frente.

Filha de arquiteto, Johansson poderia não ter seguido a carreira artística. Se foi a efervescência cultural de Manhattan, ou ainda algum outro motivo que a levou a tornar-se atriz, é difícil saber. Ela é bastante reservada quanto a sua vida pessoal e aos seus sentimentos, de modo que podemos apenas imaginar.

Em todo caso, verificando-se a filmografia de Scarlett (clique aqui para vê-la em detalhes) chegamos à conclusão que sua carreira começou bastante cedo, aos 10 anos, com North (1994), filme que ganhou no Brasil o nome de O Anjo da Guarda. Sinceramente não me lembro de tê-lo visto, e acredito que pouquíssimas crianças são prodígios desde tão cedo. Na ausência de críticas a respeito de Johansson nesse papel, penso que ela não era nenhum prodígio, apenas um rostinho bonito.
Porém, como o tempo foi generoso!

Nos 5 anos seguintes ela manteria o ritmo de um trabalho por ano, sempre em produções leves, inclusive em um velho conhecido das terras tupiniquins: Esqueceram de Mim 3. Quase uma ponta ao invés de um papel. Mas não pense você, leitor, que estou denegrindo a imagem da deusa nórdica que eu me propus a louvar com esse texto. Sou da opinião que os defeitos também fazem parte da perfeição, por mais contraditório que isso possa parecer.

Sob essa linha de raciocínio, tenho mostrado que, mesmo em produções “água-com-açúcar”, Scarlett se manteve ativa e visível a oportunidades de papéis melhores. Certamente também descobriu que gostava muito de atuar e, assim, perseverou na carreira.

Foi então que, em 2001, atuou em Ghost World, ao lado de Steve Buscemi (Reservoir Dogs) e Thora Birch (uma promessa que não deu tão certo assim). Os críticos consideram que esse filme alavancou a carreira de Johansson ao que é hoje. Ela ainda deslizaria em 2002 com o filme Eight Legged Freaks (Malditas Aranhas, no Brasil), uma comédia bem ruinzinha que está sempre em exibição no SBT.

Já em 2003, a estrela prometida em Ghost World começa a brilhar em produções de peso como Lost In Translation, de Sofia Coppola. Ao lado de Bill Murray, Scarlett dá um show de atuação na telona e mostra a que veio. Apesar de o filme não ser consenso fora do ambiente Cult, a história tem momentos muito intensos – sentimentalmente falando – e traça perfis muito interessantes e profundos a respeito dos personagens. Tais qualidades da película só são possíveis a partir da ótima interação entre Murray e Johansson.


Ainda em 2003, Girl With Pearl Earring, um filme de época, renderia a nossa nova diva do Cinema indicações ao Bafta (Oscar do Reino Unido) e ao Globo de Ouro. A fotografia do filme é belíssima e ajustada na medida perfeita para valorizar os atributos de Scarlett.

Lindíssima, ela se tornava uma mulher com o mérito não só da beleza, mas do talento!

O ano seguinte, 2004, resultaria em quatro trabalhos, dos quais um numa animação, como a voz de Mandy, a esquilo que mora no fundo do oceano ao lado de Bob Esponja e seus amigos. Os outros três são filmes razoáveis e até bons, mas sem muito de relevante.

Como disse, Johansson nasceu em Nova Iorque e, coincidência ou não, a cidade também é o berço de Woody Allen. Foi a partir de 2005 que o caminho desses dois se cruzou e o cineasta, diretor, roteirista, ator e músico judeu ganhou uma nova musa para ocupar os lugares que já foram de Diane Keaton e Mia Farrow.

É possível que Woddy ficasse irado por eu colocar Scarlett como sua musa, pois é sabido que ele não suporta esse tipo de rótulo. Só que fica difícil definir a relação deles de maneira diferente mediante declarações como essa: “você apareceu e meu bloqueio como escritor se curou”.

Match Point, Scoop e Vicky, Cristina, Barcelona... Esses são os três filmes em que a parceria Allen/Johasson já trabalhou, todos elogiados pela crítica e por mim, que tendo assistido a todos eles, recomendo. Deles, o que acho mais criativo e cativante é Match Point, de 2005. Scoop é o mais engraçado, com participações do próprio Woody Allen e do eterno Wolverine, Hugh Jackman. Aliás, no mesmo ano de lançamento de Scoop, 2006, Scarlett atuou com Jackman no ótimo The Prestige (O Grande Truque, no Brasil), cujas reviravoltas são muito inventivas.

Com relação a Vicky, Cristina, Barcelona (2008), minha opinião ainda não está toda maturada, pois vi o filme recentemente. Com certo atraso, admito. Porém adianto que a primeira impressão foi muito positiva.

O casamento entre o sortudo Ryan Reinolds e Scarlett Johanson, em setembro de 2008, pode até vir a não dar certo, já a união da jovem atriz e de Woody Allen na grande tela parece apenas ter começado.

E para finalizar – afinal, estamos aqui faz tempo –, de 2005 em diante Johansson atuou, além de em produções dirigidas pelo pequeno judeu de Nova Iorque, também em um filme de Brian de Palma (Dália Negra, de 2005), em duas adaptações de quadrinhos (The Spirit e Iron Man 2, ambos de 2009), outras duas comédias (Diário de uma Babá, de 2007, e He's Just Not That into You, de 2009), e um filme de época (The Other Bolleyn Girl, de 2008).

Para mais informações dos últimos filmes, clique aqui caso não tenha visto ainda a filmografia da atriz.

E já ia me esquecendo. Com certeza ela é uma nova diva: talentosa, linda, rosto de grifes clássicas e importantíssimas no mundo da moda – como as suas predecessoras. Porém, se tem uma coisa que ela não precisava ter tentado era cantar! Uma voz meio apagada, um ritmo meio morno, mesmo reinterpretando músicas de Tom Waits.

Como eu disse, até deusas têm defeitos...

quarta-feira, agosto 05, 2009

Perdidos na Noite



O início do filme é emblemático. Enquanto ouvimos o sotaque carregado de John Voight cantarolando uma música country, diversas personagens se perguntam:

-Aonde está Joe Buck ?

Em uma caracterização carnavalesca de cowboy, Voight atravessa a paisagem de uma cidadezinha bucólica do Texas enquanto se dirige a lanchonete, aonde trabalha lavando pratos, com o propósito de se demitir e seguir para Nova York atrás de seu sonho de virar garoto de programa.

Ao som recorrente da canção “Everybodys Talking” de Harry Nilsson , o longa “Midnight Cowboy” de John Schelsinger é um convite íntimo ao universo masculino. Amizade, frustração, homossexualismo, amor e sexo são desconstruídos um a um na incursão do inocente Joe ao universo caótico representado por Nova York.

O filme arrebatou de forma surpreendente 3 Oscars das principais categorias no ano de 1969(Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Direção), se tornando o único filme de categoria “X-rated”(proibido para menores de 18 anos) a vencer o mais tradicional prêmio do mainstream do cinema.

Não que a obra estará disponível na ala pornô da locadora mais próxima, longe disso. Explícita mesmo só a mensagem, não existem cenas chocantes de sexo, nudez ou violência como pode sugerir a classificação. O filme fala basicamente sobre prostituição masculina e sobre temas controversos para o ano de 1969 - como consumo de drogas, estupro e homossexualismo – com os méritos de não oferecer uma visão pragmática do assunto; sem nenhum tipo de juízo de valores ou condenação.

Na realidade o ingênuo Joe Buck, idealiza a prostituição como um ótimo trabalho, imaginando Nova York uma cidade onde mulheres de todas as idades estão dispostas a pagar muitos dólares por prazer. O título do longa faz uma alusão a prostituição masculina, mas infelizmente a nossa central brasileira de tradução transformou o título do filme em atração do apresentador Fausto Silva - na locadora procure por “Perdidos na Noite”. (Ninguém me tira da cabeça que a tradução literal também seria um fracasso: “Cowboy da Meia Noite”, ia parecer nome de filme nacional do Teodoro e Sampaio....)

John Voight, em um de seus melhores papéis, enterra muito antes de “O Segredo de Brockback Mountain” a figura emblemática do cowboy de John Wayne. Caracterizado com botas, esporas, chapéu e cigarro no canto da boca, Joe Buck vai a Nova York confiante no seu potencial como “garanhão” texano, e acaba se desiludindo ao perceber que os cowboys perdidos na noite são também figuras carregadas de homossexualismo implícito, procurados mais por homens que por mulheres na hora de um programa.
Em Nova York todos abusam sem nenhum pudor da ingenuidade de Joe, que aos poucos vê seu sonho de sucesso desmoronar. Talvez o único ponto otimista de todo o filme seja a amizade entre Joe e o malandro Enrico “Ratzo” Salvatore Rizzo, interpretado de forma sublime por Dustin Hofman. Para viver Ratzo, que sofre com uma perna quase inválida, Hofman utilizou pedras dentro do sapato para mancar.

O clímax do filme é desorientador e leva Joe a uma importante lição de amadurecimento no final da história.

Construído de forma hábil com uma câmera cheia de nervosismo em suas tomadas descentralizadas e edição cheias de cortes secos, o longa alterna as experiências vividas por Joe em Nova York com flashbacks de sua infância e adolescência vividas no Texas, atormentado por lembranças recorrentes de um violento estupro.

Perdidos na Noite é sem dúvida um grande filme, uma análise social crua que não perdoa nem a urbanização desordenada dos grandes centros, nem o atraso rural interiorano embrutecido, utilizando a figura do pobre Joe para mostrar como o ser humano é cruel aonde quer que seja.

Com um radinho de pilha na mão, a pé ou em um ônibus, o “cowboy” de John Voight é universal, representa o êxodo rural de pessoas simples atrás de uma vida melhor que se tornam vítimas de sua própria ilusão.

E a música de Nilsson, mereceria um post a parte. Toda vez que subo em um ônibus me pego a cantarolar: “Everybody's talking at me I don't hear a word they're saying Only the echoes of my mind”...




A marcante sequência inicial do filme ao som de Nilsson...
 
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