quarta-feira, setembro 30, 2009

Verônica Sabino, Ana Cañas e Tiê

Cansado de ler aqui e ali sobre nomes que nunca tinha ouvido cantar decidi dedicar algumas horas de meu tempo a audição de alguns talentos promissores da MPB. Particularmente o que me chamou atenção foi a nova geração feminina que tem despertado elogios rasgados tanto em território nacional quanto em turnês pela Europa e pelos Estados Unidos.

Muitos nomes soaram estranhamente familiares e decidi iniciar as sessões com a seguinte escalação:

Vanessa da Mata
Céu
Verônica Sabino
Ana Cañas

Posteriormente somei ao grupo a cantora Tiê por indicação de um amigo.
Iniciei a audição nesta ordem, comecei por Vanessa da Mata, pois tinha lido uma ótima matéria na revista Rolling Stones e fiquei curioso.

Há duas semanas postei sobre Vanessa da Mata e Céu. Segue abaixo o restante de minhas impressões pessoais sobre as cantoras.

Verônica Sabino – Que Nega é Essa ?





A surpresa desta linha de pré-selecionadas com a marca de “novos talentos” foi a cantora Verônica Sabino. Contando com a ignorância deste que desconhecia a trajetória das 5 cinco cantoras analisadas, digamos que uma veterana se infiltrou sem ser vista e mesmo com uma carreira iniciada em 1985, trouxe seu mais novo álbum para este espaço.

A grande verdade é que meu objetivo em criar esse post era oferecer impressões reais colhidas de minha audição inicial sobre as cantoras, coloquei como meta escrever os textos sem qualquer contato com sites que oferecessem críticas e análises para dessa forma tentar transcrever uma opinião sincera, verdadeira e original.

O fato é que Verônica está aqui e apesar de já ter um certo tempo de estrada foi a apenas um pouco mais de um ano que ouvi seu nome pela primeira vez, salvo engano em uma matéria que falava sobre vozes da MPB que mereciam destaque e que colocaram seu nome em um balaio cheio de revelações - o que pode ter gerado minha confusão inicial.

A audição de “Que Nega é Essa” realmente revelou uma certa familiaridade com a geração anterior de sons nacionais; com arranjos mais discretos e menos inventivos a qualidade do timbre afinado de Verônica se destaca de uma forma quase premeditada.

O álbum em si é uma lição de repertório. Pode não ser original, mas certamente é infalível ao conquistar o público do seguimento.

Têm clássicos como “Todo Sentimento” de Chico Buarque, apelo pop com “Quase Um Segundo” de Herbert Viana, peso em “Blues em Braile” de Zeca Baleiro e a malemolência de Jorge Ben na música que dá nome ao trabalho.

Nas composições de autoria de Sabino destaque para Rewind, letra bacana que me agradou apesar de incorporar palavras do inglês, o que geralmente em letras sérias pode ter um efeito ridículo. Em diversos momentos lembrei de forma clara e nítida de Adriana Calcanhoto, não somente na canção “Tardes” sugada de seu repertório e interpretada sob o mesmo DNA, mas também em “Agora”, “Túnel do Tempo” e “Invento”.

A vantagem da experiência de Verônica fica clara em relação às debutantes por uma simples questão de quantidade de canções diferenciadas. Por poder “reciclar” músicas de outros álbuns esse “Que Nega é Essa” traz uma trinca pegajosa que você não encontra nos outros trabalhos analisados: 
“Longe de Você” em dueto com Vitor Hammill, “Rosa que Me Encanta” em dueto com Rodrigo Maranhão e “Não se afaste de Mim” fizeram com que sem perceber eu repetisse diversas vezes sua audição.

Sem dúvida na caixinha de lápis de cor Verônica seria marrom.

Por quê ?

Inicialmente parece ser uma cor sem personalidade, que não diz lá muita coisa, sem nenhum tipo de protagonismo implícito. Assim como a cantora estava “escondida” em meio às demais, o marrom rouba a cena sem ser esperado e está sempre presente mesmo que não receba os holofotes do glamour. Na minha caixinha de lápis de cor da infância nunca liguei muito para a cor marrom, mas sem perceber era uma das cores que mais usava. O telhado era marrom, a montanha era marrom, o tronco da arvore era marrom, o cachorro era marrom...quando percebia o lápis tinha acabado antes dos outros.

Não passa nem perto de ser genial, mas é cotidiano e fácil fácil de se ouvir.

Chocolate, pó de café, feijão... coisas indispensáveis para o brasileiro em seu dia-a-dia, cheias de sabor, cheiro e insuportavelmente marrons.

Ana Cañas – Amor e Caos




“A Ana é azeda
Mas é doce quando é doce
A Ana é azeda
Mas muito doce quando é doce”

E foi assim que o álbum “Amor e Caos” de Ana Cañas debutou no meu mídia player antecipando um pouco das impressões sobre seu trabalho.

Ana é doce diabética na interpretação de “Coração Vagabundo” de Caetano Veloso, que perdeu ginga, mas ganhou um tom de sussurro suplicante à beira da ternura. Doce e contemplativa na medida em “Para Todas as Coisas”.

Cañas não chega a ser azeda mas mostra uma faceta muito mais interessante em canções menos emotivas e mais complexas, pelo simples conceito de antônimos entre sabores; vai ao oposto de doce na versão de “Rainy Day Woman” de Bob Dylan e “Vacina na Veia” que muda constantemente o tom e o ritmo para alertar “vacina na veia para não cair na teia”.

O suingue de “Mandiga” e de “Super Mulher”, de Jorge Mautner, deixam evidente a interessante variação de repertório escolhido pela cantora que entrega a cada estilo uma interpretação diferente com tonalidades vocais variantes e também gritinhos, sussurros e gemidos que complementam a “encenação”.

Cañas é formada em artes cênicas, mas mudou de idéia no meio do caminho, abandonou o teatro e iniciou carreira musical como intérprete de jazz nos bares da vida, “Amor e Caos” parece trazer um pouco dessa inquietude de contradições de antagonismos.

Traiçoeira em “Devolve Moço” :

“Existe aqui uma mulher
Uma bruxa, uma princesa,uma diva
Que beleza”

A cor que melhor definiria Ana Cañas seria o azul. Capaz de variar em diversos tons e composições presentes em nosso cotidiano do sombrio azul escuro, ao alegre azul de um céu de verão. Masculina a cor escancara na porta do quarto o sexo do bebê, se repetindo de forma universal como indicativo de índice determinante de “banheiro masculino”; mesmo assim a cor pode se dar ao luxo de ser tão feminina e sensual em suas variantes, como no azul da calcinha pudica da lolita.

Nos comerciais aonde a idéia é mostrar um ambiente feliz o azul é indispensável, no céu, no mar ou nas roupas...sempre está lá.

Na fossa, na tristeza é sinônimo de depressão em linguagem universal. Nada melhor que ouvir um “blues” acompanhado de um copo de uísque.

O azul é contraste e contraponto por excelência, a cor do mar que pode ser sereno ou bravio, adjetivo pontual de elogio ou crítica. Ana Cañas iniciou uma trajetória interessante em seu primeiro trabalho, mas às vezes oscilante demais em suas nuances, o que pode desagradar aos menos acostumados com a maresia .

Tié – Sweet Jardim






Tiê chegou assim de última hora, mas digo que com um quê de profecia bíblica a cantora atingiu despretensiosamente o lugar de favorita entre minhas recentes audições.

A mais feminina das novas vozes que passaram algum tempo comigo nessas últimas semanas é diferente da sensualidade de Vanessa da Mata, mulher força, ou do charme inovador de Céu, mulher sofisticação.

O timbre de voz e a maneira com que Tiê interpreta suas belas canções é a alma feminina essencial, sensível, delicada, por vezes infantil ou indefesa. Sem baboseiras feministas de “cantar grosso” alguma mensagem de superação comum à personagens centrais de novelas platinadas, a cantora entrega algumas gemas originais como “Passarinho”, “5° Andar” e “Te Valorizo” assumindo de forma corajosa os sentimentos mais puros de dependência, de carinho e entrega; sem a arrogância pretensiosa dos repertórios de Anas Carolinas e Marias Ritas que colocam a mulher nas relações como o rambo metralhando homens sem caráter.

È comum em nossa sociedade atual algumas mulheres confundirem as reais intenções do feminismo, criando na realidade um machismo às avessas. O lugar da mulher na sociedade deve ser garantido com os mesmos direitos e deveres dos homens e como isso nem sempre é assim concordo que deve haver alguma mobilização a respeito.

O problema é quando esse conflito homem/mulher extravasa os limites e propõe uma relação de antagonismo e não de dependência. Homens ou mulheres somos dependentes um do outro e ponto final. Tié não só aceita isso como resgata o charme da mulher MPB suplantada recentemente pela feminista MPB.

A sofisticação charmosa da cantora que canta em francês, inglês e português, com a mesma desenvoltura, me fez lembrar de outras audições, sem necessariamente soar parecido. De Astrud Gilberto à Katie Melua me recordei de todas as vozes suaves e femininas que adoçam os ouvidos de forma terna e insinuante.

Outro ponto positivo é que as letras desse “Sweet Jardim” são na maior parte de sua autoria. Realmente um achado.

Cansei de ouvir a canção “Assinado Eu” e não lembro de nenhuma música de “pé na bunda” mais terna e sensível. Uma lição de força feminina delicada como uma pétala como deve ser.

A Cor de Tiê?

Rosa ! O mais superlativo dos adjetivos cromáticos para uma mulher. As outras que morram de inveja.

terça-feira, setembro 29, 2009

Frost/Nixon (2008)

Boa noite, leitores!

Não, não é quarta-feira da semana que vem... Pois seria o dia correto de escrever para o LTBML. Em todo caso, me explico.

Apesar de jornalista formado, sou também bancário, e estou em greve. Com tempo, fui à locadora e loquei Frost/Nixon, filme de 2008 e indicado a cinco categorias do Oscar. Assisti esta tarde e PRECISEI vir indicar.

Destaque para a sensacional caracterização de Frank Langella como o ex-presidente americano. O ator, auxiliado por uma maquiagem e por um figurino impecáveis, encarnou Richard Nixon sob as lentes de Ron Howard. Fiquei impressionado.

Antes de ver o filme propriamente dito, comecei pelos extras e lá há trechos da real entrevista entre David Frost e o único presidente da história dos EUA a renunciar. Talvez por isso o meu choque ao ver o quão bem Langella interpreta Nixon. Do outro lado, Michael Sheen faz uma ótima leitura do que é/foi Frost – este último ainda está vivo e ativo na TV britânica.

Para quem não sabe, o escândalo de Watergate aconteceu em 1972 e dizia respeito, resumidamente, a escutas instaladas em alguns escritórios do Partido Democrata e a perseguição a jornalistas e jornais contrários ao republicano Nixon e a sua postura com relação à Guerra do Vietnã. As entrevistas realmente concedidas a David Frost em 1977 são um registro histórico-político de uma confissão do ex-presidente americano. Por isso sua relevância.


Não me aprofundarei mais na história, pois meu texto deveria ser uma BREVE indicação. Saliento apenas um último item. Nos extras, Ron Howard diz que tentou arquitetar o filme de maneira a lembrar uma luta de boxe, onde cada pergunta de Frost representa um round entre Nixon e o entrevistador britânico. Decisão sábia do diretor. O filme nos prende justamente na tensão criada pelo embate e pela expectativa dos jabs seguintes

terça-feira, setembro 22, 2009

O Escafandro e a Borboleta (2007)



Depois de alguns dias dedicado a projetos diferentes, me animei a escrever antecipadamente o texto dessa semana no LTBML. Não que seja com uma antecedência gigante, mas está valendo.

Duas semanas atrás, um domingo qualquer, sem nada melhor o que fazer, peguei um DVD que o Japa gravou para mim. Nele havia alguns filmes, dentre eles O Escafandro e a Borboleta. Reconheci o nome dos indicados ao Oscar de filme estrangeiro desse ano (ou seria ano passado??? Já que o filme é de 2007). Assisti e aqui vão minhas impressões.

Baseado no livro homônimo de Jean-Dominique Bauby, a história fala de um homem que se descobre em um hospital no litoral francês após um derrame. Desavisados poderiam assistir como uma tocante história de superação, porém é realidade. Sim, o homem é Bauby, e o livro O Escafandro e a Borboleta foi “ditado” por ele através de uma linguagem complexa que usava piscadelas para indicar letras.


Jean-Dominique era um editor de sucesso na revista Elle e sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) que o paralisou completamente à exceção dos olhos e do próprio pensamento. O filme e o livro mostram a luta de Bauby para se comunicar e a adaptação do jornalista ao seu mundo escafandro.

Além de uma história tocante, o filme é muito bonito. A fotografia é caprichada, e as tomadas de câmera foram feitas de forma a substituírem a visão do personagem e darem ao expectador a sensação de partilhar a prisão de Bauby. Chega a ser incômodo não ver a cabeça de alguns personagens enquanto estes falam com o protagonista. Igualmente desesperador é tentar seguir a ladainha de letras que são repetidas seguidamente para que Jean-Dominique pisque e formule frases.

A direção de Julian Schnabel, para mim um desconhecido, acerta nas idéias para te colocar no escafandro de Bauby. Ao mesmo tempo o filme não te faz ficar triste e nem desesperado. Pode ter sido apenas impressão minha, mas as fantasias ocasionais do personagem – muito bem ilustradas pela direção – deixam no ar um quê de O Fabuloso Destinjo de Amelie Poulain. Talvez seja porque o filme é francês e os franceses façam filmes assim hoje em dia; quanto a isso melhor procurar um blog especializado em cinema francês.

De qualquer modo, de minha parte fica a indicação de um ótimo filme. Não vou contar o final, então assistam. Ele caiu muito bem com um domingo frio e de sol, no meu chalé nas montanhas. Aliás, alguém mais sensível poderia até ter chorado. Não foi o caso. Mas o fato é que a condição de Bauby levaria à tristeza, sem que, no entanto, essa condição afetasse a beleza do filme e uma alegria camuflada por estar vivo.


E para terminar, destaque para a capacidade de Mathieu Amalric de interpretar um tetraplégico, ou seja lá qual o termo médico para alguém que só move um olho. O francês manda muito bem e não é um rosto totalmente desconhecido, já tendo participado de Munich, de 2005, e de Quantum of Solace, de 2008.

quinta-feira, setembro 17, 2009

Vanessa da Mata e Céu


Cansado de ler aqui e ali sobre nomes que nunca tinha ouvido cantar decidi dedicar algumas horas de meu tempo a audição de alguns talentos promissores
da MPB. Particularmente o que me chamou atenção foi a nova geração feminina que tem despertado elogios rasgados tanto em território nacional quanto em turnês pela Europa e pelos Estados Unidos.

Muitos nomes soaram estranhamente familiares e decidi iniciar as sessões com a seguinte escalação:

Vanessa da Mata


Céu


Verônica Sabino


Ana Cañas


Posteriormente somei ao grupo a cantora Tiê por indicação de um amigo. Iniciei a audição nesta ordem, comecei por Vanessa da Mata, pois tinha lido uma ótima matéria na revista Rolling Stones e fiquei curioso. Em seguida ouvi a cantora Céu, que muitos tinham me indicado como um fenômeno da MPB; grande foi minha surpresa quando percebi que não se tratava exatamente de música “popular” tão pouco “brasileira”.

Postarei hoje minhas primeiras audições e daqui 15 dias as próximas.


Vanessa da Mata – Sons Diversos/ Multishow ao Vivo

Um início promissor e confuso. Primeiro cheguei a conclusão que conhecia a cantora por causa do hit pegajoso “Boa Sorte” que ficou gastando nas FMs a algum tempo atrás, mas decidi ignorar esse detalhe e avançar como se estivesse em território totalmente desconhecido.

Duas sensações iniciais me incomodaram na audição de Vanessa da Mata. A primeira era de estar ouvindo Maria Rita nas notas altas e abertas e Marisa Monte nos sussurros.
Fechando os olhos tive dificuldade em criar uma identidade imediata para minha nova companheira de audição. A segunda sensação que me incomodou foi a impressão de que apesar das semelhanças algo estava diferente e nenhum adjetivo surgia para classificar, não exatamente a voz, mas a maneira de cantar de Vanessa.

Trabalhando com rádio à quase dois anos aprendi na prática que a expressão facial transparece na sonoridade das palavras e que dizer algo rindo é completamente diferente do que dizer algo de
sobrancelhas cerradas de raiva - e no cantar isso é semelhante.

Achei particular a forma imagética com que a voz de Vanessa se projetava. Via claramente seus gestos, sorrisos, caras e bocas que provavelmente dirigia ao seu público, sem nunca ter visto uma
apresentação dela nos palcos. O primeiro adjetivo que me surgiu na cabeça foi vermelho. Sem saber tinha criado o padrão para analisar as próximas cantoras. Ao meu ver as cores dizem muito sem a necessidade exata de uma definição. O vermelho é a cor da fúria, da paixão, do calor, das sensações e energias sexuais, do ímpeto. Talvez a única cor “quente” na real definição do termo. Depois desse rompante imagético os adjetivos começaram a surgir.

Vanessa canta de forma sensual, latina, como se as palavras escorregassem até a ponta da língua antes de serem arremessadas ao ar.
Não vi originalidade no repertório, mas pequenas pérolas que brilham pela interpretação apaixonada de Vanessa. “Pirraça”, “Ai, ai, ai”, e “Fugiu com a novela” são bons momentos.

Gostei particularmente das versões para “História de uma Gata” e para o baiano “Não Me Deixe Só”. “As Rosas Não Falam” de Noel também vale ser notada apesar do desgaste natural da música revisitada por quase todo mundo. Vanessa é vermelho, às vezes um jantar romântico no Panamá, outras um alaranjado pôr-do-sol, não exatamente um rompante furioso de um incêndio, mas um calorzinho vindo daquela fogueira da beira do mar que tinge de tons vermelhos a água salgada.

Mas lembrei que não gosto tanto assim de praia.


Céu – Céu/ Vagarosa

Quando iniciei a audição de Céu com a trinca “Cangote”, “Comadi” e “Nascente” admito que fiquei irritado e quase pulei para a cantora seguinte.

Sua voz era muito afinada - mas não me pareceu particularmente um destaque.
O que me causou um grande desconforto foram os arranjos instrumentais e os overdubs, algumas influências confusas de sons, de vozes duplicadas, de elementos jazzísticos somados a efeitos eletrônicos improváveis. - Não é MPB !- cheguei a sentenciar em certo ponto.

O conceito de “música popular brasileira” não podia ser aplicado ao som deturpado cheio de elementos estrangeiros e sonoridad
es que hora me lembravam a sofisticação de um bar Nova Yorkino, hora o charme esfumaçado da noite parisiense.

Depois que passei desse primeiro estágio da audição comecei a ser mais complacente com a voz da bela Céu.


Encontrei sobre as camadas exageradas de sons e instrumentos uma entrega interessante de conteúdo. Com um pouco de boa vontade, e sem ligar o som ao rótulo de MPB da embalagem, podemos ver as experimentações de Céu como algo inovador, próximo de um acid jazz ou de um “MPB progressivo” se é que isso é possível.
Tirando os sintetizados e os metais desnecessários a voz de Céu emociona pela palidez e chega a sumir em algumas canções; quase rouca a performance atinge em alguns bons momentos algo nacional muito semelhante a requintadas intérpretes internacionais.

Não pude deixar de notar uma aura de Madeleine Peiroux sondando as canções de Céu. “Concrete Jungle” é legitimamente internacional. Existem alguns suspiros de MPB como em “O ronco da Cuíca” e “Vira-Lata”, mas nada que afaste da cantora sua cara de sofisticação internacional.


Diferente do óbvio, Céu não é azul, mas ocre.
Uma cor oscilante, um quase sem tom, capaz de ser visto e apreciado em diversas paisagens - mas sem um lugar comum, desapegado das raízes das cores primárias. Uma cor predileta para poucos, mas que traz o charme exótico do não convencional.

quinta-feira, setembro 10, 2009

Os Homens que Não Amavam as Mulheres - Stieg Larsson


Os amigos internautas já devem ter percebido que me atrasei na postagem dessa semana. Peço desculpas. Alguns problemas que não vêm ao caso acabaram por causar essa demora. Mas vamoquevamo!


É o seguinte, vocês já devem ter percebido que gosto de uma literatura leve, daquele tipo que não cai em vestibular e não é tema de roda intelectual – apesar de não desgostar de alguns clássicos também. No momento estou lendo Dom Quixote novamente, após muitos anos; sendo que a primeira vez que o li foi em uma tradução/adaptação que definitivamente não é tão rica quanto o original, ou mesmo quanto boas traduções lusitanas. O caso é que estou lendo uma boa tradução, cheia de referências e tudo o mais, e com isso a leitura tem sido lenta... Aguardem o texto no futuro.


Anteriormente ao fidalgo de La Mancha li um romance policial sueco, o qual é o tema de hoje. Os Homens que Não Amavam as Mulheres, doravante chamado OHNAM. O livro faz parte de uma trilogia, a Millenium, que possui este nome em referência a uma revista fictícia na qual o personagem principal do romance trabalha como editor – além de partilhar a propriedade do veículo com uma amiga/amante/sócia.

Em igual medida a seu personagem, o autor foi ativista político e jornalista influente na sociedade sueca. Uso o verbo no passado, pois Stieg Larsson morreu em 2004, pouco depois de entregar sua trilogia às máquinas da editora que a publicaria.


Admito que o nome soe, no mínimo, estranho; algo como um romance voltado ao público homossexual. Não se engane, isso foi uma escorregadela da nossa sempre eficiente “Central Brasileira de Traduções – Seção Filmes e Livros”; a tradução literal do sueco seria algo como A Menina com a Tatuagem de Dragão.A trama toda é amarrada muito bem, além de, para um desinformado, o romance policial só se apresentar lá pela página 100. Nisso lhe restam mais de 400 páginas de belas paisagens suecas, frio, suspense inteligente, e informações tecnológicas bastante detalhadas.


Em linhas gerais, a história é essa: De cara somos apresentados a um mistério acerca de umas flores que chegam todo ano, ao longo de quarenta anos, à casa de um senhor. Fique tranqüilo, pois dali em diante a parte misteriosa de OHNAM desaparece por um tempo considerável. Lisbeth Salander, co-protagonista da trama aparece como uma jovem esquisita e anti-social que usa de artifícios tecnológicos para trabalhar (leia-se hacker – você perceberá isso imediatamente). Surge Mikael Blomkvist, proprietário e editor chefe da revista Millenium, veículo respeitado e independente, pronto para disparar verdades sobre os tubarões da economia sueca. Em um tiro mal dado, Mikael é processado por um grande investidor e tem de se afastar da revista, o que abre uma brecha para que um milionário aposentado o contrate para escrever a biografia da família.


A partir daí a coisa toda esquenta. Fatos históricos como a Segunda Guerra, a crise da década de 30, e até mesmo a bolha dos Tigres Asiáticos servem de pano de fundo para que os podres da família Vanger venham à tona. Um grande mistério atormenta o patriarca da família. Um desaparecimento. Pistas coletadas minuciosamente. Uma companheira inesperada. Uma descoberta ainda mais escabrosa do que se imaginava.


Sim, o ritmo fica alucinante em dado momento. Admito que me surpreendi. Não achava que era um romance policial quando comprei o livro, mas fiquei gratificado com o bom desenvolvimento e com a escrita cativante de Stieg Larsson. O fato de o final do mistério acontecer antes do fim do livro também foi uma agradável surpresa, visto que deixou a obra um pouco diferente da massa de romances policiais.


Não vou contar muito mais. Creio que consegui colocar uma pulga na orelha de algum de vocês. Aliás, o livro está saindo uma pechincha na maior parte das grandes livrarias. Confesso que só comprei um livro totalmente desconhecido, de um autor sueco que eu nunca ouvi falar, porque custava meros R$ 19,90 (na livraria Martins Fontes) e eu estava de bobeira na Paulista.


Estou curioso pelos outros volumes, cujos nomes são muito menos constrangedores. Já pesquisei e os títulos estão com um valor quase tão irrisório quanto o OHNAM. O que aguardará Mikael e Lisbeth em A Menina que Brincava com Fogo e A Rainha do Castelo do Ar?

P.S.: Acabei de ler algumas críticas e não é que o tal Larsson “tá bombando”? Pois sim! Nas listas de mais vendidos em muitos dos 35 países no qual foi publicado. E há um filme sueco que irá estrear em breve, com o primeiro volume. Como eu não ouvi falar antes disso, hein? Será que estou tão alienado assim? Putz, não vou reescrever tudo, pessoal!

quarta-feira, setembro 02, 2009

Joe Johnston


Com pelo menos três filmes, cinco discos e três livros começados e não digeridos o post desta semana era uma incógnita. Não imaginava sobre o que poderia escrever e não queria antecipar nenhum dos assuntos futuros sem dar a eles a atenção necessária.

Decidi então falar sobre um daqueles nomes perdidos no meio da história, coadjuvantes com algum brilho, mas que nunca aparecerão como protagonistas. Em qualquer site ou blog so
bre cinema(inclusive neste) veremos Hitchcock, Spielberg, Scorcese, Coppola, Kubrick e tantos outros nomes incontestáveis em qualquer seleção, mas poucos dedicam algumas linhas aos diretores que completam o “time” e que são responsáveis por filmes que ocasionalmente assistimos e que garantem alguns bons momentos em frente a tela.

O contemplado para assumir o posto de “Zé-ninguém” ou “Joe Doe” desta semana é o diretor Joe Johnston. Você provavelmente não deve ter ouvido falar deste nome; mas se você viveu neste planeta nas últimas três décadas, com algum acesso a televisão e cinema, certamente assistiu algum filme com a assinatura de Johnston nos créditos.

Sabe os dois primeiros longas da série “Indiana Jones” ? E o segundo “Guerra nas Estrelas”? Então ele não dirigiu nenhum deles como todos sabemos, mas foi o diretor de efeitos especiais dos três filmes. Quem não se lembra da pedra rolando atrás de Harrisson Ford em “Caçadores da Arca Perdida”, ou da ponte pênsil em “O Templo da Perdição”? E a batalha entre os gigantescos andadores AT-AT e a resistência rebelde na batalha do palneta gelado de Hoth em “O Império Contra-ataca” ? Cenas históricas do cinema de aventura com um toque de Johnston.

Sua carreira como diretor teve início em 1989 com o divertido “Querida Encolhi as Crianças” clássico vespertino repetido a exaustão pelo SBT. Me lembro até hoje que quando criança tinha um medo enorme do filme e gravei diversas cenas que para mim se tornaram recordações de infância: como aquela das crianças minúsculas andando pelo jardim ou da sopa aonde o personagem de Rick Moranis quase engole um de seus filhos.

Impossível não lançar um suspiro nostálgico.

Johnston dirigiu em 1991 a aventura “Rocketeer” outro marco das tardes da década de 90, dessa vez eternizada nas repetições da platinada.

A
adaptação da graphic novel de Dave Stevens agradou jovens e adultos; me lembro claramente de jogar em meu Megadrive (ou seria no Nintendo 8Bits ?) o game que seguia o enredo do herói com um propulsor nas costas perseguido por espiões barra-pesada. Diversão inocente que a garotada de hoje não entenderia.

Depois de um tropeço junto ao astro mirim Macaulay Culkin em “The Pagemaster”, Joe acertou novamente e dessa vez cravou um sucesso de ótima bilheteria com o empolgante “Jumanji”(1995).

A todos nós cansados das
aventuras meia boca e sem criatividade que envolvem cães e simios superdotados jogando esportes diversos o filme conseguiu dar um sopro de originalidade, e se não é um grande nome pelo menos quebra o galho. Algumas cenas são realmente muito boas, sempre abusando dos efeitos especiais - maior assinatura de Johnston.

Vale ainda creditar aqui à filmografia do diretor a seqüência “Jurassic Park III” que na minha opinião é passável. Ainda dou risada com a cena aonde um celular toca na barriga do dinossauro gigante maior que o T-Rex...


Para finalizar tive uma grata surpresa ao ver o que vem pela frente... Já havia encontrado cenas na web com a espantosa caracterização do ator Benício Del Toro para a nova versão do filme “O Lobisomem”(The Wolfman) mas não imaginava que o longa seria dirigido por Johnston. Será interessante ver como a câmera do diretor se sairá em um suspense. Confira o trailer na filmografia ilustrada do diretor.

Para esperar e temer foi anunciado que o diretor prepara para 2011 uma adaptação que há muito tempo entra e sai dos planos dos grandes estúdios. Será dele a culpa do sucesso - ou do fracasso - da versão cinematográfica do herói mais nacional que os Estados Unidos concebeu. Sim ele, o cara que veste uma bandeira e uma estrela na testa, o supersoldado Capitão América.

Pois é, logo o “anonimato” de Johnston chegará ao fim para o bem ou para o mal. Sinceramente torço para que nenhum desses longas estoure como uma bomba nas mãos dele.


Longe de ser um John qualquer, não daria a ele um Oscar ou uma Palma, mas talvez o troféu “Diretor Camarada” por ter prestado ao cinema uma ótima contribuição quase anônima.

Veja aqui a Filmografia ilustrada e sinta a nostalgia...
 
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