terça-feira, outubro 27, 2009

Tudo Acontece em Elizabethtown (2005)

Que tal um filme agradável e bonitinho para assistir com a namorada no feriado? Então alugue Elizabethtown, traduzido porcamente como Tudo Acontece em Elizabethtown. Acreditem, nem tudo acontece. Mas o que acontece vale a pena ser visto e passa uma boa mensagem. É um filme descompromissado mas que, eventualmente, te dá pequenas lições de vida.

Dirigido por Cameron Crowe - relevante por dirigir o ótimo Vanilla Sky em 2001 -, a produção segue a linha de outros trabalhos do diretor, como Jerry Maguire (1996). Importante dizer que ele é o diretor e produtor de Quase Famosos, de 2000, um ótimo filme sobre um jornalista adolescente que, nos anos 70, embarca na turnê de uma banda de rock para escrever sobre ela.

Como em Jerry Maguire, Elizabethtown toca o lado sensível do espectador. A história tem a seguinte sinopse: jovem designer de calçados lança um tênis que quase leva sua empresa à falência; a namorada o larga após o fracasso e ele pensa em suicídio; o pai do rapaz morre nesse momento; a mãe e a irmã do protagonista o elegem para organizar os funerais em Elizabethtown, cidade natal do pai; no avião o designer conhece uma jovem aeromoça que se intromete em sua vida de uma forma muito graciosa.

Bom, esses são os ingredientes básicos. Adicione Susan Sarandon como a mãe de Drew (protagonista) e Kirsten Dunst como Claire Colburn, a espivitada aeromoça. O jovem designer fica a cargo de Orlando Bloom, que não tem como errar ao desempenhar a apatia de um homem fracassado.

Destaque para a trilha sonora que tem, inclusive, a perfeita Free Bird, do Lynyrd Skynyrd, e a poética Pride, do U2. Entre outras grandes canções. Trilha de muito bom gosto.

Entre dar um prejuízo bilionário à empresa e tentar suicídio, Drew decide enterrar seu pai antes de dar adeus ao mundo. Na sua cidade natal conhece mais a fundo sua família e constata o quanto o pai era amado. Nesse meio tempo, entra em contato com a aeromoça que, insistentemente, o fez decorar o caminho até Elizabethtown e, por algum motivo, deixou seu telefone.

Não é um filme de gargalhadas. Mas é bonito. Os diálogos são bem legais e na cerimônia em homenagem ao morto, o discurso de Susan Sarandon sobre o marido é tocante.

No elenco de apoio ainda surgem nomes como Jessica Biela (ex-namorada de Drew) e Alec Baldwin (o frio Phill, chefe do personagem de Orlando Bloom).

Se você não tem nada melhor para fazer no feriadão, alugue e assista. A chance de se dar bem com namorada depois é ótima. Em todo caso, eu estarei na praia.

domingo, outubro 18, 2009

Bontsha, O Silencioso - Isaac Leib Peretz




"Bontsha era um ser humano. Viveu desconhecido, no silêncio, e no silêncio morreu, depois de passar pela vida como uma sombra. No dia em que Bontsha nasceu, ninguém ficou alegre, ninguém tomou um copo de vinho. Na sua confirmação, não houve discurso nem celebração. Viveu como o grão de areia na beira do grande oceano, entre milhões de outros, grãos como ele. E quando o vento, enfim, o levantou e levou com seu sopro para a outra margem, ninguém notou."

Entre os diversos gêneros literários, um que me agrada em especial é o conto. A habilidade de narrar em poucas palavras uma história marcante é sem dúvida uma arte para poucos.

Mesmo os melhores dentre os melhores contistas intercalam momentos de genialidade com o marasmo do lugar comum; impossível ser genial e inovador sempre.

Até os grandes escritores sentem a dificuldade de criar triunfos indiscutíveis em um gênero tão superlotado de aventureiros que escrevem a torto e a direita - tornando o processo de selecionar boas narrativas curtas um processo árduo, porém prazeroso.

O conto escolhido para exemplificar esse caso é o genial “Bontsha, O Silencioso”, uma pérola de lucidez e genialidade concebida pelo escritor polonês Isaac Leib Peretz(1852-1915).

Para nós brasileiros a quase desconhecida obra deste escritor judeu poderia seguir no anonimato sem que com isso sentíssemos falta de bons contos para ler. Por isso a escolha dessa semana, não foi simplesmente para parecer diferenciado ou tentar atribuir a este espaço uma pseudo aura cult pré-fabricada. Nada disso, existe apenas a necessidade de levar a luz a uma obra pouco conhecida mas que merece ser visitada (“Let There be More Light”...o nome não é por acaso.)

É aquela motivação que acontece espontaneamente após terminar um bom livro, assistir a um bom filme ou ouvir um grande disco. Você simplesmente quer que mais pessoas conheçam determinado trabalho e essa sensação se torna ainda mais urgente quando se trata de obras obscuras ou pouco convencionais.

Peretz entrega em seu conto uma história peculiar sobre o ser humano. Bontsha, nunca reclamou, sentiu ódio ou reagiu a qualquer coisa, sem se queixar de Deus, dos homens ou da sociedade sua vida é marcada por um inconfortável silêncio diante da injustiça.

A narrativa tem início com a morte do protagonista e com um desconfortável sarcasmo diante da pequenez humana.

Bontsha é apresentado como um miserável esquecido e desprezado por todos, sua morte e sua história são marcadas pelo anonimato social.

Diante do júri celestial a vida da personagem passa a ser revisitada com um humor caustico pelos anjos que revezam a palavra entre acusação e defesa.

Como julgar alguém que não fez nada de mal a vida toda ?

Falar mais seria estragar a experiência. Para aqueles que desejam ler a história disponibilizo um link para o e-book na Internet, lembrando que o conto foi publicado na coletânea “Os Cem Melhores contos de Humor da Literatura Universal”.

Não se enganem, o texto não faz rir, na verdade causa uma sensação de desconforto nauseante em seu final, humor negro que dá um tapa na cara da hipocrisia com ares de fábula de Esopo.

Se lerem comentem.

quinta-feira, outubro 08, 2009

Playing with My Friends: Bennett Sings the Blues - Tony Bennett


Boa noite, queridos leitores. Dessa vez estou atrasado. Culpa do Japa.

Hoje pensei em falar sobre a carreira de Tonny Bennett, um dos meus cantores favoritos. Porém, optei por deixar isso para depois. Trabalharei melhor a idéia e tentarei usar uma idéia interessante na composição. Por hora, me restringirei a um único álbum.

Playing with My Friends foi gravado em 2001 e contou com participações de músicos de peso. Um exemplo: B.B. King. Querem mais? Que tal Ray Charles!? As 15 canções do álbum têm releituras muito boas e é refrescante ver Bennett, no alto de uma carreira cinquentenária e coroada por 15 Grammys, cantar Stormy Weather ao lado de Natalie Cole.

Só para contextualizar: Tony Bennet é ítalo-americano, novaiorquino do Queens, e é considerado a segunda maior voz do século XX na música popular americana, além de merecer elogios da própria primeira voz, The Voice, Frank Sinatra: "Ele (Bennett) é meu ídolo". Ele tem a firme convicção que apenas o talento não faz um bom músico, e sim o estudo e a dedicação. Suas paixões são a música e a pintura.

Contextualizados? Sigamos...

Os duetos contidos em Playing with My Friends ainda revisitam Alright, Okay, You Win, blues alegre e convidativo que conquistou os americanos na década de 70 (na voz de Joe Willians). Diana Krall empresta seu possante vocal para a composição rouca de Bennett.

Blues in the Night é um solo, mas funciona como um afirmação. Ela é a terceira canção do álbum, e é precedida por duetos. Nesse instante pode surgir a dúvida: será que Tony ainda está com essa "bola toda" ou são as parcerias que seguram a coisa toda? Como disse, Blues in the Night significa que, apesar da idade (75 na época), Tony Bennett entrou o século XXI ainda sendo uma das maiores vozes da música: o cantor brinca com a voz e entra no espírito blues.

Para os menos informados, ele é o maior intérprete de jazz vivo, já que Sinatra morreu. E sua especialidade é música popular americana. Uma olhada na sua discografia e nos seus maiores sucessos comprova tal fato. O blues não é uma constante. Mais um diferencial que valoriza Playing with My Friends.

Ray Charles, com sua voz inexplicável (não acho adjetivos adequados. Perdão, sou fã), entra em Evenin' após um leve gemido, um "uuuhuuum", um detalhe que entrega o dueto. Você percebe que é Charles e pensa: "não tem como ser ruim". E não é.

Caso o típo de blues que você tem em mente é aquele da guitarra elétrica do Yardbirds ou de Clapton, aprenda que existem outras "pegadas" no estilo. A batida certa do violão e do baixo acústico, um TUUUUM TUUUM TUM, é que marca o blues. Mas fique feliz! B.B. King entra com guitarra e tudo em Let the Good Time Roll. É uma música que passa uma ótima sensação. É possível sentir a química entre os dois cantores. Ouvi há não muito tempo que é possível saber se alguém está sorrindo apenas pela sua voz, mesmo sem ver o rosto; é o caso.

Não menos importante é New York State of Mind, com Billy Joel. O balanço que a voz trinada de Joel empresta à música cai muito bem com o piano do maestro Ralph Sharon. E é de se pensar que New York seja mesmo um estado de espírito, tão rica, tão cheia de arte, de vida, de gente diferente; ela é mesmo um estado libertário de espírito. Mas estou divagando...

De qualquer modo, fica a dica para esse excelente CD. Infelizmente é uma dica que poucos seguirão, pois pouca gente ainda se dá ao luxo de conhecer Bennet, Sinatra, enfim, os grandes de antigamente, que soam como coisa de vô, coisa de pai e de mãe. Música de qualidade não tem idade, é atemporal. E só para constar: em 1994, Bennett cantou no MTV Music Awards com o Red Hot Chilli Peppers; em seguida foi convidado a gravar o MTV Unplugged; em 1995 ganhou o Grammy de melhor álbum do ano com o Unplugged.

Com certeza não foram só nossos pais e avós que o fizeram ganhar o prêmio. Vençam preconceitos e ouçam coisas diferentes. Hoje minha dica é Playing with My Friends. Boa noite!


1. "Alright, Okay, You Win" (duet with Diana Krall)
2. "Blue and Sentimental" (duet with Kay Starr)
3. "Blues in the Night"
4. "Don't Cry Baby"
5. "Evenin" (duet with Ray Charles)
6. "Everyday" (duet with Stevie Wonder)
7. "Good Morning Heartache" (duet with Sheryl Crow)
8. "I Gotta Right to Sing the Blues" (duet with Bonnie Raitt)
9. "Keep the Faith, Baby" (duet with k d lang)
10. "Let the Good Times Roll" (duet with B.B King)
11. "New York State of Mind" (duet with Billy Joel)
12. "Old Count Basie Is Gone"
13. "Playin' With My Friends"
14. "Stormy Weather" (duet with Natalie Cole)
15. "Undecided Blues"
 
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