- Servir a população
- Proteger os inocentes
- Cumprir a Lei
- Classified
- Vingança
Um dos ícones mais superlativos do cinema da década de 80, o longa Robocop de Paul Verhooven, foi lançado em 1987 e recebeu aqui no Brasil um complemento pouco sutil ao seu já explícito título se tornando também “O Policial do Futuro”.
O sucesso de bilheteria alcançado pelo filme gerou um fenômeno preocupante que abre diversos questionamentos sócio-culturais. O público parece não ter entendido a mensagem do filme que faz uma crítica brutal e violenta ao nosso estilo de organização social, aos métodos de combate a criminalidade e também à nossa inter-relação com a tecnologia que criamos. Em um impulso que invadiu as salas de cinemas na década de 80, jovens e crianças formaram a grande maioria dos espectadores que entravam para ver Robocop e saíam com a sensação de ter assistido Jaspion.
Não sei se uma bactéria desconhecida que causa alienação imediata se alastrou entre refrigerantes e pipocas, mas o fato é que logo após sua arrebatadora estréia a máquina de matar virou também uma máquina de dólares.
Logo o robô que nada mais era do que um policial morto, reanimado e sedento por vingança, iniciou uma trajetória improvável de garoto propaganda e começou a estampar mochilas, lancheiras e camisetas; vender gibis, gerar séries de desenho animado e uma coleção de brinquedos para todas as idades. Uma das maiores franquias dos anos 80.
Ninguém entendeu a mensagem apesar do conteúdo explícito do longa, talvez pela embalagem do filme com cara de pôster do Capitão América. Em um primeiro momento, a Detroit de Robocop é o claro retrato de uma sociedade em colapso, a urbanização caótica e a criminalidade crescem e a desorganização do governo fica evidente nas ameaças de greve da força policial que tenta sem solução controlar o tráfico de drogas. A megaempresa OCP( sigla que pode ser traduzida como Omni Produtos para Consumo) comanda um projeto para criar uma nova cidade chamada Delta City, livre da criminalidade, condenando a antiga Detroit ao esquecimento. A relação com as tecnologias não é menos problemática, o protótipo ED-209, da OCP, projetado para ser uma máquina de combate ao crime e substituir a força policial convencional chega a ser bisonha. Fortemente armado o robô entra em mal funcionamento e assassina um empresário logo em sua apresentação teste. Robusto como um tanque de guerra mas incapaz de subir e descer uma escada, o robô é uma crítica explícita as tecnologias supérfluas.
Até o cyborg título é uma alegoria - às vezes carnavasleco nos seus trejeitos e sons metálicos. Feito sobre os restos do policial assassinado Alex Murphy; Robocop surge como uma máquina de servir e proteger, mas também entra em colapso e começa a seguir uma diretriz bastante pessoal: vingança.
Perceba que nada funciona como deve, na sociedade podre e corrupta da Detroit do filme.
Ninguém explica como um longa sério, violento e pessimista que trata sobre a criminalidade de grandes centros urbanos com largas doses de humor negro e sarcasmo, se tornou um sucesso empacotado e embalado pela industria para vender bonecos e gibis à crianças.
Baixo como o QI de quem assistiu e não entendeu, é também a eficiência do policial do futuro. Seus passos são lentos e penosos, e apesar de blindado com placas de metal super-resistentes, Robocop dificilmente alcançaria um bandido em fuga, o simples girar de pescoço leva alguns segundos para ser executado. Equipado com uma beretta modificada, chega a ser engraçado como o robô persegue os inimigos armados até os dentes, que parecem buscar o fim trágico nas mãos de um Alex Murphy que mal consegue se movimentar.
No Brasil ainda temos uma desculpa, pois o canal do Plim-Plim editava e cortava todas as cenas violentas para colocar o longa na sessão da tarde para seu filho de quatro anos assistir com o dedo no nariz.
Como fã do filme fica aqui meu desabafo:
Vamos assistir Robocop, de preferência acionando um pouquinho nosso lado esquerdo do cérebro, um espacinho só do córtex pré-frontal já será o suficiente. YES WE CAN !