Entre os diversos filmes que marcaram minha puberdade cinematográfica acredito que “Amargo Pesadelo” seja um daqueles que podem ser classificados como “inesquecíveis quase impossíveis de serem lembrados por completo”.
Eu explico.
Existem alguns filmes que ficam, mesmo contra nossa vontade, impressos na memória com um sentido geral de significados que podem ter sido causados por cenas e momentos impactantes a nossa percepção. Muitas vezes não se trata de uma obra de arte ou de uma unanimidade cinematográfica, mas alguns longas insistem em cravar seus nomes na história da sétima arte com momentos que muitas vezes duram minutos, ou até segundos.
Classifico o filme de John Boorman como um espécime curioso dessa genealogia.
Lembrava do contexto geral da história. Quatro amigos da cidade que decidem se aventurar em uma espécie de final de semana selvagem com direito a camping, caça e passeio nas corredeiras de um rio. Repentinamente um confronto se estabelece com alguns “caipiras” locais que gera uma situação trágica e psicologicamente perturbadora.
Há pouco mais de uma semana, ao reler alguma resenha sobre o filme, percebi que me lembrava apenas de quatro cenas com clareza.
Um duelo de banjo que se tornou um clássico(veja abaixo o vídeo), a cena clímax do filme com um estupro masculino, a vendeta esmagadora de Burt Reynolds com um arco e flecha e a cena de uma mão emergindo das águas com uma espingarda.
De resto percebi que não me lembrava de nada. Nada mesmo. Nem o final.
Constrangedor ? Certamente.
Como um dos filmes que você conscientemente considera um dos melhores que já assistiu ousa escapar dessa forma de sua memória?
Não sei, mas percebi que esse caso não é único, apesar de emblemático em minha filmografia de favoritos.
Prefiro acreditar que o impacto de algumas seqüências sobre nosso subconsciente acaba por causar esse efeito de o “inesquecível filme que eu não me lembro bem”...
Assisti novamente “Amargo Pesadelo” esta semana e indico a qualquer um, do antropólogo ao alienado, todos se sentirão no mínimo incomodados com as situações sugeridas que tratam basicamente de nossas interações sociais mais desastrosas e preconceituosas. A reação catártica e violenta passa longe da redenção, mas causa um clima de aceitação passiva desconfortável. Poucos filmes oferecem opções morais duvidáveis de comportamento com tamanha sinceridade como este; não existe um juízo de valores ou qualquer atitude calculada, apenas impulsos justificados pelo instinto, às vezes bestial, de reagirmos à situações de violência.
Fica aqui a dupla indicação. Assista “Amargo Pesadelo” e procure e revisite em sua filmografia pessoal aqueles filmes que você sempre indica a alguém mas que no fundo não se lembra direito.
Eu pretendo em breve (re)assistir “O Poderosos Chefão” e “O Franco Atirador”. Lembrar de cabeças de cavalo decepadas e roletas russas com prisioneiros de guerra é fácil difícil é reconstruir toda a obra ao redor de suas cenas míticas depois de alguns anos.
1 Comentário:
Entendo o que vc quis dizer, fragmentado em minha memórira junto DELIVERANCE - ou AMARGO PESADELO no Brasil, estão mais dois filmes, JOHNNY VAI À GUERRA e HOUVE UMA VEZ UM VERÃO.
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