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Cansado de ler aqui e ali sobre nomes que nunca tinha ouvido cantar decidi dedicar algumas horas de meu tempo a audição de alguns talentos promissores da MPB. Particularmente o que me chamou atenção foi a nova geração feminina que tem despertado elogios rasgados tanto em território nacional quanto em turnês pela Europa e pelos Estados Unidos.Muitos nomes soaram estranhamente familiares e decidi iniciar as sessões com a seguinte escalação:
Vanessa da Mata
Céu
Verônica Sabino
Ana CañasPosteriormente somei ao grupo a cantora Tiê por indicação de um amigo. Iniciei a audição nesta ordem, comecei por Vanessa da Mata, pois tinha lido uma ótima matéria na revista Rolling Stones e fiquei curioso. Em seguida ouvi a cantora Céu, que muitos tinham me indicado como um fenômeno da MPB; grande foi minha surpresa quando percebi que não se tratava exatamente de música “popular” tão pouco “brasileira”.Postarei hoje minhas primeiras audições e daqui 15 dias as próximas.
Vanessa da Mata – Sons Diversos/ Multishow ao Vivo
Um início promissor e confuso. Primeiro cheguei a conclusão que conhecia a cantora por causa do hit pegajoso “Boa Sorte” que ficou gastando nas FMs a algum tempo atrás, mas decidi ignorar esse detalhe e avançar como se estivesse em território totalmente desconhecido.
Duas sensações iniciais me incomodaram na audição de Vanessa da Mata. A primeira era de estar ouvindo Maria Rita nas notas altas e abertas e Marisa Monte nos sussurros. Fechando os olhos tive dificuldade em criar uma identidade imediata para minha nova companheira de audição. A segunda sensação que me incomodou foi a impressão de que apesar das semelhanças algo estava diferente e nenhum adjetivo surgia para classificar, não exatamente a voz, mas a maneira de cantar de Vanessa.
Trabalhando com rádio à quase dois anos aprendi na prática que a expressão facial transparece na sonoridade das palavras e que dizer algo rindo é completamente diferente do que dizer algo de sobrancelhas cerradas de raiva - e no cantar isso é semelhante.
Achei particular a forma imagética com que a voz de Vanessa se projetava. Via claramente seus gestos, sorrisos, caras e bocas que provavelmente dirigia ao seu público, sem nunca ter visto uma apresentação dela nos palcos. O primeiro adjetivo que me surgiu na cabeça foi vermelho. Sem saber tinha criado o padrão para analisar as próximas cantoras. Ao meu ver as cores dizem muito sem a necessidade exata de uma definição. O vermelho é a cor da fúria, da paixão, do calor, das sensações e energias sexuais, do ímpeto. Talvez a única cor “quente” na real definição do termo. Depois desse rompante imagético os adjetivos começaram a surgir.
Vanessa canta de forma sensual, latina, como se as palavras escorregassem até a ponta da língua antes de serem arremessadas ao ar. Não vi originalidade no repertório, mas pequenas pérolas que brilham pela interpretação apaixonada de Vanessa. “Pirraça”, “Ai, ai, ai”, e “Fugiu com a novela” são bons momentos.Gostei particularmente das versões para “História de uma Gata” e para o baiano “Não Me Deixe Só”. “As Rosas Não Falam” de Noel também vale ser notada apesar do desgaste natural da música revisitada por quase todo mundo. Vanessa é vermelho, às vezes um jantar romântico no Panamá, outras um alaranjado pôr-do-sol, não exatamente um rompante furioso de um incêndio, mas um calorzinho vindo daquela fogueira da beira do mar que tinge de tons vermelhos a água salgada.
Mas lembrei que não gosto tanto assim de praia.
Céu – Céu/ Vagarosa
Quando iniciei a audição de Céu com a trinca “Cangote”, “Comadi” e “Nascente” admito que fiquei irritado e quase pulei para a cantora seguinte.
Sua voz era muito afinada - mas não me pareceu particularmente um destaque. O que me causou um grande desconforto foram os arranjos instrumentais e os overdubs, algumas influências confusas de sons, de vozes duplicadas, de elementos jazzísticos somados a efeitos eletrônicos improváveis. - Não é MPB !- cheguei a sentenciar em certo ponto.
O conceito de “música popular brasileira” não podia ser aplicado ao som deturpado cheio de elementos estrangeiros e sonoridades que hora me lembravam a sofisticação de um bar Nova Yorkino, hora o charme esfumaçado da noite parisiense.
Depois que passei desse primeiro estágio da audição comecei a ser mais complacente com a voz da bela Céu.
Encontrei sobre as camadas exageradas de sons e instrumentos uma entrega interessante de conteúdo. Com um pouco de boa vontade, e sem ligar o som ao rótulo de MPB da embalagem, podemos ver as experimentações de Céu como algo inovador, próximo de um acid jazz ou de um “MPB progressivo” se é que isso é possível. Tirando os sintetizados e os metais desnecessários a voz de Céu emociona pela palidez e chega a sumir em algumas canções; quase rouca a performance atinge em alguns bons momentos algo nacional muito semelhante a requintadas intérpretes internacionais.
Não pude deixar de notar uma aura de Madeleine Peiroux sondando as canções de Céu. “Concrete Jungle” é legitimamente internacional. Existem alguns suspiros de MPB como em “O ronco da Cuíca” e “Vira-Lata”, mas nada que afaste da cantora sua cara de sofisticação internacional.
Diferente do óbvio, Céu não é azul, mas ocre. Uma cor oscilante, um quase sem tom, capaz de ser visto e apreciado em diversas paisagens - mas sem um lugar comum, desapegado das raízes das cores primárias. Uma cor predileta para poucos, mas que traz o charme exótico do não convencional.
2 Comentários:
VSF!!!!!! PQP!!!!
meu, parabéns... sacadas geniais!!!! estou surpreso, japa... o lance das cores foi phoda!!!!
mas vc forçou a barra com acid jazz hahahahahahah
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