Cansado de ler aqui e ali sobre nomes que nunca tinha ouvido cantar decidi dedicar algumas horas de meu tempo a audição de alguns talentos promissores da MPB. Particularmente o que me chamou atenção foi a nova geração feminina que tem despertado elogios rasgados tanto em território nacional quanto em turnês pela Europa e pelos Estados Unidos.
Muitos nomes soaram estranhamente familiares e decidi iniciar as sessões com a seguinte escalação:
Vanessa da Mata
Céu
Verônica Sabino
Ana Cañas
Posteriormente somei ao grupo a cantora Tiê por indicação de um amigo.
Iniciei a audição nesta ordem, comecei por Vanessa da Mata, pois tinha lido uma ótima matéria na revista Rolling Stones e fiquei curioso.
Há duas semanas postei sobre Vanessa da Mata e Céu. Segue abaixo o restante de minhas impressões pessoais sobre as cantoras.
Verônica Sabino – Que Nega é Essa ?
A surpresa desta linha de pré-selecionadas com a marca de “novos talentos” foi a cantora Verônica Sabino. Contando com a ignorância deste que desconhecia a trajetória das 5 cinco cantoras analisadas, digamos que uma veterana se infiltrou sem ser vista e mesmo com uma carreira iniciada em 1985, trouxe seu mais novo álbum para este espaço.
A grande verdade é que meu objetivo em criar esse post era oferecer impressões reais colhidas de minha audição inicial sobre as cantoras, coloquei como meta escrever os textos sem qualquer contato com sites que oferecessem críticas e análises para dessa forma tentar transcrever uma opinião sincera, verdadeira e original.
O fato é que Verônica está aqui e apesar de já ter um certo tempo de estrada foi a apenas um pouco mais de um ano que ouvi seu nome pela primeira vez, salvo engano em uma matéria que falava sobre vozes da MPB que mereciam destaque e que colocaram seu nome em um balaio cheio de revelações - o que pode ter gerado minha confusão inicial.
A audição de “Que Nega é Essa” realmente revelou uma certa familiaridade com a geração anterior de sons nacionais; com arranjos mais discretos e menos inventivos a qualidade do timbre afinado de Verônica se destaca de uma forma quase premeditada.
O álbum em si é uma lição de repertório. Pode não ser original, mas certamente é infalível ao conquistar o público do seguimento.
Têm clássicos como “Todo Sentimento” de Chico Buarque, apelo pop com “Quase Um Segundo” de Herbert Viana, peso em “Blues em Braile” de Zeca Baleiro e a malemolência de Jorge Ben na música que dá nome ao trabalho.
Nas composições de autoria de Sabino destaque para Rewind, letra bacana que me agradou apesar de incorporar palavras do inglês, o que geralmente em letras sérias pode ter um efeito ridículo. Em diversos momentos lembrei de forma clara e nítida de Adriana Calcanhoto, não somente na canção “Tardes” sugada de seu repertório e interpretada sob o mesmo DNA, mas também em “Agora”, “Túnel do Tempo” e “Invento”.
A vantagem da experiência de Verônica fica clara em relação às debutantes por uma simples questão de quantidade de canções diferenciadas. Por poder “reciclar” músicas de outros álbuns esse “Que Nega é Essa” traz uma trinca pegajosa que você não encontra nos outros trabalhos analisados:
“Longe de Você” em dueto com Vitor Hammill, “Rosa que Me Encanta” em dueto com Rodrigo Maranhão e “Não se afaste de Mim” fizeram com que sem perceber eu repetisse diversas vezes sua audição.
Sem dúvida na caixinha de lápis de cor Verônica seria marrom.
Por quê ?
Inicialmente parece ser uma cor sem personalidade, que não diz lá muita coisa, sem nenhum tipo de protagonismo implícito. Assim como a cantora estava “escondida” em meio às demais, o marrom rouba a cena sem ser esperado e está sempre presente mesmo que não receba os holofotes do glamour. Na minha caixinha de lápis de cor da infância nunca liguei muito para a cor marrom, mas sem perceber era uma das cores que mais usava. O telhado era marrom, a montanha era marrom, o tronco da arvore era marrom, o cachorro era marrom...quando percebia o lápis tinha acabado antes dos outros.
Não passa nem perto de ser genial, mas é cotidiano e fácil fácil de se ouvir.
Chocolate, pó de café, feijão... coisas indispensáveis para o brasileiro em seu dia-a-dia, cheias de sabor, cheiro e insuportavelmente marrons.
Ana Cañas – Amor e Caos
“A Ana é azeda
Mas é doce quando é doce
A Ana é azeda
Mas muito doce quando é doce”
E foi assim que o álbum “Amor e Caos” de Ana Cañas debutou no meu mídia player antecipando um pouco das impressões sobre seu trabalho.
Ana é doce diabética na interpretação de “Coração Vagabundo” de Caetano Veloso, que perdeu ginga, mas ganhou um tom de sussurro suplicante à beira da ternura. Doce e contemplativa na medida em “Para Todas as Coisas”.
Cañas não chega a ser azeda mas mostra uma faceta muito mais interessante em canções menos emotivas e mais complexas, pelo simples conceito de antônimos entre sabores; vai ao oposto de doce na versão de “Rainy Day Woman” de Bob Dylan e “Vacina na Veia” que muda constantemente o tom e o ritmo para alertar “vacina na veia para não cair na teia”.
O suingue de “Mandiga” e de “Super Mulher”, de Jorge Mautner, deixam evidente a interessante variação de repertório escolhido pela cantora que entrega a cada estilo uma interpretação diferente com tonalidades vocais variantes e também gritinhos, sussurros e gemidos que complementam a “encenação”.
Cañas é formada em artes cênicas, mas mudou de idéia no meio do caminho, abandonou o teatro e iniciou carreira musical como intérprete de jazz nos bares da vida, “Amor e Caos” parece trazer um pouco dessa inquietude de contradições de antagonismos.
Traiçoeira em “Devolve Moço” :
“Existe aqui uma mulher
Uma bruxa, uma princesa,uma diva
Que beleza”
A cor que melhor definiria Ana Cañas seria o azul. Capaz de variar em diversos tons e composições presentes em nosso cotidiano do sombrio azul escuro, ao alegre azul de um céu de verão. Masculina a cor escancara na porta do quarto o sexo do bebê, se repetindo de forma universal como indicativo de índice determinante de “banheiro masculino”; mesmo assim a cor pode se dar ao luxo de ser tão feminina e sensual em suas variantes, como no azul da calcinha pudica da lolita.
Nos comerciais aonde a idéia é mostrar um ambiente feliz o azul é indispensável, no céu, no mar ou nas roupas...sempre está lá.
Na fossa, na tristeza é sinônimo de depressão em linguagem universal. Nada melhor que ouvir um “blues” acompanhado de um copo de uísque.
O azul é contraste e contraponto por excelência, a cor do mar que pode ser sereno ou bravio, adjetivo pontual de elogio ou crítica. Ana Cañas iniciou uma trajetória interessante em seu primeiro trabalho, mas às vezes oscilante demais em suas nuances, o que pode desagradar aos menos acostumados com a maresia .
Tié – Sweet Jardim
Tiê chegou assim de última hora, mas digo que com um quê de profecia bíblica a cantora atingiu despretensiosamente o lugar de favorita entre minhas recentes audições.
A mais feminina das novas vozes que passaram algum tempo comigo nessas últimas semanas é diferente da sensualidade de Vanessa da Mata, mulher força, ou do charme inovador de Céu, mulher sofisticação.
O timbre de voz e a maneira com que Tiê interpreta suas belas canções é a alma feminina essencial, sensível, delicada, por vezes infantil ou indefesa. Sem baboseiras feministas de “cantar grosso” alguma mensagem de superação comum à personagens centrais de novelas platinadas, a cantora entrega algumas gemas originais como “Passarinho”, “5° Andar” e “Te Valorizo” assumindo de forma corajosa os sentimentos mais puros de dependência, de carinho e entrega; sem a arrogância pretensiosa dos repertórios de Anas Carolinas e Marias Ritas que colocam a mulher nas relações como o rambo metralhando homens sem caráter.
È comum em nossa sociedade atual algumas mulheres confundirem as reais intenções do feminismo, criando na realidade um machismo às avessas. O lugar da mulher na sociedade deve ser garantido com os mesmos direitos e deveres dos homens e como isso nem sempre é assim concordo que deve haver alguma mobilização a respeito.
O problema é quando esse conflito homem/mulher extravasa os limites e propõe uma relação de antagonismo e não de dependência. Homens ou mulheres somos dependentes um do outro e ponto final. Tié não só aceita isso como resgata o charme da mulher MPB suplantada recentemente pela feminista MPB.
A sofisticação charmosa da cantora que canta em francês, inglês e português, com a mesma desenvoltura, me fez lembrar de outras audições, sem necessariamente soar parecido. De Astrud Gilberto à Katie Melua me recordei de todas as vozes suaves e femininas que adoçam os ouvidos de forma terna e insinuante.
Outro ponto positivo é que as letras desse “Sweet Jardim” são na maior parte de sua autoria. Realmente um achado.
Cansei de ouvir a canção “Assinado Eu” e não lembro de nenhuma música de “pé na bunda” mais terna e sensível. Uma lição de força feminina delicada como uma pétala como deve ser.
A Cor de Tiê?
Rosa ! O mais superlativo dos adjetivos cromáticos para uma mulher. As outras que morram de inveja.
5 Comentários:
Textos dignos de constar em qualquer caderno de cultura, ou revista especializada!
Parabéns!
O Romano tem razão, muito bom o artigo, parabéns.
Boas as músicas do sweet jardim, não? Eu vejo nela uma originalidade muito grande... não me recordo de nada que seja muito parecido com "passarinho", por exemplo.
Ana Cañas também manda muito bem. E muito curiosa a relação que você faz com as cores, nunca tinha pensado nisso, mas gostei.
Abs
bruno
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