segunda-feira, novembro 20, 2006

Disque M para Matar - Alfred Hitchcock



Texto por Luiz Romano Locali


Dia 13 último foi aniversário de Grace Kelly, princesa de Mônaco e musa de Alfred Hitchcock. Na realidade SE ela estivesse viva, estaria completando 77 anos de idade. Por esse motivo decidi falar brevemente de um filme tanto de Kelly quanto de Hitchcock: “Dial M for Murder” (Disque M para Matar, em português), de 1954.

Infelizmente eu tive o prazer de conhecer essa obra prima do suspense hitchcockiano, pré-“Psycho” (Psicose), na versão dublada, em uma dessas sessões raras de bons filmes que o SBT ainda passa nas madrugadas de domingo.

Uma Grace Kelly incrivelmente linda protagoniza a história de uma dama rica da sociedade inglesa que, casada com um ex-jogador de tênis profissional, está apaixonada por um escritor norte-americano com o qual teve um affair no passado.

O marido Tony Wendice, interpretado de maneira muito convincente por Ray Milland, é um homem que precisa viver sob a sombra e o dinheiro da mulher e, quando descobre o caso dela com Mark Halliday (Robert Cummings), decide tomar uma atitude drástica.

A partir daí o enredo é claro e pode iludir o expectador menos atento. Um crime acontece e você sabe perfeitamente como ele aconteceu. Um plano típico dos vilões de Agatha Christie, uma mocinha em apuros, um suspeito, uma morte. Só que o suspense de Hitchcock não está nesse crime, mas em SE e COMO ele será solucionado.

É fácil se apegar a uma imagem de perfeição como a da beleza de Grace Kelly; e a sua personagem, Margot Wendice, é frágil e cativante. Combinação que o diretor utiliza magistralmente. Há também o elemento de humor leve simbolizado pelo personagem do veterano John Willians (não o compositor), o inspetor-chefe Hubbard; ele é praticamente o policial inglês caricato e como em um bom romance policial com um oficial inglês, ele se sente “inclinado” às mulheres bonitas.

É um ótimo Hitchcock, mas não o melhor. Em todo caso prenuncia bem a atuação de Kelly em “Rear Window” (Janela Indiscreta), também produzido em 1954.

sábado, novembro 11, 2006

V for Vendetta - Filme - Irmãos Wachowski


Mr Creedy -
Die, Die, Why won´t you die ? Why won´t you Die ?

V - Beath this mask, there´s more than flesh, beneath this mask there´s an idea Mr Creedy, and ideas are bulletproof


Não conhecia a hq de Alan More admito. Sei que fiz o caminho incorreto ao assistir primeiro a adaptação sem saber exatamente o que estava sendo adaptado, mas de certa forma meu senso de julgamento tinha contra os irmãos Wachowski um certo ressentimento e desesperança, pelos decepcionantes Matrix Reloaded e Matrix Revolutions, o que me condicionava a já assistir o filme esperando que o mesmo fosse inferior a obra original.

Depois de entregar a instigante história de Neo, em uma revolução de movimentos de câmera com um roteiro de psicanálise profunda, os irmãos de nome estranho tinham em suas mãos o poder para mudar o rumo da ficção científica e jogaram tudo no buraco; ao apostar em seqüências cheias de ação, cenas espantosas efeitos excepcionais e pouco cérebro os Wachowskis não pareciam a opção mais indicada para adaptar V de Vingança.

Eu imaginava que eles se dariam bem com franquias de heróis de mais ação como a própria Liga Extraordinária, também de Alan More, o que permitiria um número maior de malabarismos e estripulias da câmera imprevisível dos irmãos, mas sinceramente...

fiquei com certo receio ao saber que uma graphic novel psicológica como V for Vendetta seria conduzida por diretores que podiam a qualquer momento se render ao apelo estético de tornar o terrorista título da hq em uma máquina de matar com armas brancas e muita coreografia em câmera lenta.

Ainda bem que estava errado. Na verdade errei feio.

O filme é todo conduzido pelo par de personagens centrais literalmente encarnados por Natalie Portman como a confusa Evey e Hugo Weaving, atrás da máscara de Guy Falkes que nunca sai do rosto do terrorista V. A história e a ideologia do filme já foram discutidas aqui, mas o que me chamou a atenção na adaptação ao cinema é o quanto a obra se manteve fiel a idéia de sua gênese; do começo ao fim o que vemos é o lado dos terroristas e suas motivações, sem politicagens e discursos de direita, o anarquismo de V parte do princípio que o poder do povo deve brotar da revolução, mesmo que a revolução comece do caos.

A câmera e a direção foram seguras durante todo o filme, entregando boas cenas de ação em tomadas rápidas e cortes secos, guardando para o clímax e somente para esse momento as câmeras lentas que se tornaram ícone do cinema pós Matrix.

Em um mundo onde Bin Laden é uma espécie de Fawkes moderno ainda em liberdade é gratificante ver uma obra polêmica como V for Vendetta chegar ao público com sua alma incólume de maiores censuras, não sei de vocês mas depois de assistir ao filme eu quis desesperadamente comprar uma máscara de Fawkes , da mesma forma que após assistir Clube da Luta pela primeira vez eu me interessei pelo mote “ use sabonete”. Lógico que ninguém vai sair por aí fabricando nitroglicerina no quintal de casa para explodir o senado, mas em uma realidade de tantos desgostos políticos o máximo que podemos fazer é torcer, mesmo que baixinho, para os anti-heróis do nosso tempo, por mais subversivo que isso possa parecer.

ATENÇÃO: Abaixo encontrei no youtube a cena final de V for Vendetta, o clímax onde os Wachowski finalmente usam suas câmeras lentas a lá matrix para conduzir a ação, portanto se você não assistiu não aperte o play. Decidi colocar a cena aqui porque ela é muito boa e todo mundo que já assistiu ao filme com certeza gostaria de revê-la.




sexta-feira, novembro 10, 2006

Acid Jazz


Texto por Luiz Romano Locali


Sempre fui um amante do jazz clássico: Ella Fitzgerald, Louis Armstrong... Mas com o tempo fui assimilando um jazz muito mais complexo, como o swing de Ellington e o bebop do sax de Charles Parker e do trompete de Dizzie Gillespie.

O prazer de ouvir um Miles Davis, um John Coltrane, um Chet Baker, só fizeram com que eu me apegasse ainda mais ao estilo brilhante que é o Jazz e todos os seus filhos.

Hoje em dia acabei por descobrir o Acid Jazz. E esse é o motivo de estarmos aqui.

O que é o Acid Jazz? Ele é uma vertente muito atual e usa desde batidas do hip-hop até elementos do funk da década de 1970, passando inclusive pelo rap. Ele é essencialmente uma música negra. Ainda tem influências do soul e logicamente do jazz sendo que, atualmente, até o samba é incorporado por alguns conjuntos. Outro ponto importante é que o som do Acid é mais vibrante e dançante.

Os temas são geralmente amorosos, mas há casos de letras com um cerne político e contestatório forte, mostrando claramente as origens no funk e hip-hop. Porém, a batida e a melodia podem preencher uma canção inteira e te fazerem sentir o jazz fluir sem precisar de uma palavra.

Admito que não levava a sério o hip-hop ou o funk (o brasileiro continuo não levando), mas conhecer o Acid Jazz está mudando minha opinião a respeito.

Para quem quiser conhecer o estilo, recomendo o álbum Schizophonic, do Us3. Mas aviso que o som não é dos mais fáceis e cativantes. Acredito que ter chegado ao Acid foi uma evolução e talvez seja sim interessante conhecer algo do clássico para se chegar a essa vertente tão moderna e atual do jazz.

Bom proveito aos “jazzeiros” de plantão.



Conheça o Us3 e o album Schizophonic aqui

quarta-feira, novembro 08, 2006

O Dia o Curinga - Jostein Gaardner

" - Quem sou eu? , continuou ele. Por que sou um curinga? De onde venho e para onde vou? Decidi arriscar tudo numa única cartada. Voce viu todas as plantas que plantei nessa ilha, comecei. O que você diria se eu te contasse que fui eu quem criou você e também todos os outros anões do povoado?
- Nesse caso eu não teria escolha, caro Mestre. Eu teria de tentar matá-lo para recuperar minha dignidade"


"- A paciência é uma maldição de família. Há sempre um curinga que não se deixa iludir. Quem quer entender o destino, tem que sobreviver a ele.....No caso do curinga é diferente, pois ele veio ao mundo com o defeito de ver coisas demais e de ver todas elas em profundidade!"


Jostein Gaardner ficou aclamado mundialmente como o autor de “ O Mundo de Sofia”, como um jovem e talentoso escritor que transmite filosofia a crianças e adolescentes através de historias muito bem contadas, mas não se deixe enganar por esse norueguês de fala fina e literatura ágil. Ele é um Coringa.

O Dia do Coringa parte de uma premissa semelhante à de O Mundo de Sofia. O menino Hans Thomas sai em viagem pela Europa com o pai atrás da mãe que os abandonou há oito anos para ser modelo na Grécia; o pai de Thomas é um filosofo amador com problemas de alcoolismo que coleciona cartas de curinga e que durante toda a viagem incentiva o menino a pensar nas grandes perguntas da vida. Até esse momento o livro pode ser encarado como um divertido “road book” que explora a relação de pai e filho atrás da mulher que os abandonou, mas a guinada acontece quando misteriosamente o garoto recebe um pão com um livro em miniatura e uma lupa para lê-lo, nesse momento as narrativas se dividem, contando hora a trajetória de Thomas e seu pai até a Grécia e hora a história do livro dentro do livro. O pequeno livro conta uma fábula que envolve segredos matemáticos, anões, uma ilha misteriosa e uma bebida mágica de cor púrpura.

E é nos detalhes que Gaardner ganha o leitor. Tudo tem relação em sua obra, tudo é uma citação implícita ou explicita a pontos e pensamentos-chave da teologia e da filosofia, para isso o autor abusa da magia e do fascínio do baralho sobre nós. Os capítulos são os nomes das cartas sendo 53 no total, um para cada carta e um para o Curinga. No pequeno livro a fábula apresentada é sim educativa, mas passa longe de ser infantil, a sociedade que vive na ilha é composta de anões cada um representando uma carta de baralho, e com exceção do curinga, todos são alienados e não sabem o motivo de sua existência e nem buscam saber, quase um Mito da Caverna moderno. A bebida mágica de cor púrpura é deliciosa e causa uma ampliação dos sentidos e um vício quase que imediato ao mesmo tempo que destrói a consciência de quem as bebe. É dessa forma através de charadas matemáticas, sugestões e citações que Gardner explora alienação social, vícios e virtudes, existencialismo e religião para nos entregar um delicioso livro que parece um misto de “Platão, Aristóteles and Friends” com Alice no País das Maravilhas.

Para Gaardner ser um Curinga é enxergar aquilo que ninguém enxerga e perguntar aquilo que ninguém pergunta por não existir uma resposta empírica; a magia está no caminho entre a pergunta e a resposta. Nem na partida, nem na chegada, no caminho



Bibliografia do Autor aqui




segunda-feira, novembro 06, 2006

A Caverna - José Saramago




















"Não fui desses gênios que, aos 4 anos de idade, escrevem histórias. Apenas via as coisas do mundo e gostava de vê-las., Nunca fui de grandes imaginações. Eu não me interessava por fantasias, mas pelo que ocorria. A imaginação, o que dizer a respeito dela? Meus livros estão aí para provar que a tenho. Mas é uma imaginação que está sempre a serviço da razão. Meus livros se caracterizam por uma imaginação forte, mas sempre usada de forma racional. Posso formular assim: a imaginação é o ponto de partida, mas o caminho a partir daí pertence à razão."




Saramago, mudanças e uma flor silvestre - Texto por Luiz Romano Locali

“Uma florzinha silvestre que nasce dos escombros”, explica José Saramago sobre o significado de seu sobrenome.
E seria um comentário bastante plausível também para o sentido que vejo em uma de suas obras que particularmente mais gosto: “A Caverna”.
Os escombros são as mudanças que acontecem ao longo dos nossos dias, e a “florzinha” que sobrevive em meio a destruição nada mais é do que o símbolo de superar e se adaptar a uma nova condição. É ao redor disso que gira a história criada pelo português José Saramago nesse primeiro romance pós-Nobel. Mesmo assim, o escritor nega um caráter ideológico ao romance, apenas afirma que a obra faz com que pensemos para onde vamos.
Para começar, tem que se ter em mente alguns aspectos. Se você resolver ler esse livro, não espere encontrar referências como cidades, países. Há a cidade, e há o interior, e nenhum deles tem nome. Há uma grande loja de departamentos, o Centro Comercial. E apenas os personagens principais têm o privilégio de uma alcunha; o restante é um elenco de tipos sociais, como o chefe de departamento e o gerente do Centro.
O mundo está em constante mudança e os avanços do fim do século XX acabaram forçando transformações na vida de milhões de pessoas. O viúvo Cipriano Algor não é uma exceção; oleiro cuja visão não vai além do seu grande forno e dos vales por onde passa quando entrega seus pratos e tigelas no Centro Comercial, é pego de surpresa quando o plástico substituiu seus utensílios de barro. Está desenhado o hospedeiro perfeito para uma crise existencial entre os valores capitalistas e as verdades simples e diretas do campo.
Ainda há Marta e Marçal, respectivamente filha e genro de Cipriano. Ela mora com o pai e é uma mulher que não se deixa abalar facilmente, raciocinando sempre de modo a superar os problemas, buscando o passo além. Marçal, ao contrário, acredita ser sábio e em que a solução para os problemas do casal (e do sogro) é a mudança da família para o Centro Comercial, pois seu emprego de segurança lhe garantia um apartamento dentro das dependências do Centro.
O tempo todo há essa balança oscilando entre o vazio causado pela não mais existência do mundo que Cipriano conhecia (sua profissão de oleiro), e a convicção de seu genro de que não há sentido em viver longe do conforto e das facilidades da vida moderna. A seu modo, cada um teme as mudanças e preferiria que o mundo continuasse como eles o conhecem.
Marta nesse aspecto funciona como grande contraponto e como elo de ligação entre a apatia pós-mudança e a reação. É ela que preserva a “florzinha silvestre que nasce dos escombros”.
Ao longo da narrativa ainda surgem o cão Achado – “o mais humano dos cães” – e a viúva Isaura. Os dois elementos são importantes pois vão dar o toque de doçura e leve romantismo que deixa a obra deliciosa. Passagens como as conversas de Cipriano com Achado são verdadeiras lições de vida.
O final do livro é surpreendente e o enredo é a discussão do que podemos fazer quando a vida nos impõe algo, ou para onde vamos no momento de crise.
Enfim, Saramago tem essa característica: apesar dos temas serem extremamente sérios, os seus textos têm uma leveza impressionante. Mas atentem: me refiro a uma leveza no trato e na construção das orações, fazendo o leitor digredir e amenizando assim a seriedade dos assuntos. Porém, para alguns leitores isso incomoda e pode ser uma dificuldade. O jeito como ele insere os diálogos também é peculiar e não há travessões ou aspas, as falas estão no texto diferenciadas apenas por uma letra maiúscula.
De qualquer modo, é uma boa leitura e depois que nos acostumamos com a maneira dele escrever, tudo fica mais fácil. Recomendo também “Ensaio sobre a Cegueira” e “Intermitências da Morte”.



Bibliografia do Autor Aqui

domingo, novembro 05, 2006

V for Vendetta - Alan Moore



"Remember, remember, the fifth of
November, the gunpowder treason and
plot. I know of now reason why the
gunpowder treason should ever be
forgot."
5 de novembro. Em 1605, Guy Fawkes, o mais próximo de um terrorista que sua época pôde gerar, comanda um atentado contra o parlamento britânico, tentando não só colocar o prédio abaixo mas também assassinar o Rei James I. A escolha do Parlamento ingles não foi aleatória, símbolo da força política da época o que iria abaixo naquela noite seria mais do que um prédio, mas segundo a ideologia libertária de Fawkes, a queda do parlamento significava a ascensão do povo ao poder .O plano falhou e o terrorista foi julgado, torturado e enforcado como exemplo, mas as idéias são a prova de forcas também.
A HQ de Alan Moore (História) e David Lloyd (arte) lançada em 1989, parte da noite que ficou conhecida como a Fireworks Night daquele 5 de novembro, para fundamentar toda a ideologia do protagonista, o terrorista V.
Para mim o diferencial da história é exatamente o detalhe que o protagonista da graphic novel não é um herói, mas um terrorista, e apesar da empatia que temos pelo seu discurso e de acreditarmos que ele é o “mocinho” da trama, a realidade é exatamente outra.
V é um anarquista, ele quer derrubar o poder através do terrorismo e da insurreição popular caótica, nada de democracia, o lance é instaurar o caos. Seus motivos também são questionáveis uma vez que além de seu discurso político V traz abaixo da máscara de Fawkes uma vingança pessoal, ele não busca matar idéias, ele busca punir pessoas.
A nossa simpatia a causa anarquista é despertada a partir do momento que observamos o regime fascista contra o qual V luta, a liberdade é vigiada, a cultura censurada, os comandantes da nação são ditadores quase caricatos. Mas o que torna a idéia e o ideal propagados por V algo incomodo é que o governo a ser derrubado não é necessariamente o atrativo, mas a idéia de derrubá-lo sim, se analisarmos o potencial da obra como um panfleto, vemos que a nossa simpatia pela causa terrorista só reflete, na realidade, nosso descontentamento submisso com as grandes fontes de poder no mundo.
E.U.A, Coréia do Norte e mais da metade do mundo islâmico possuem regimes tão opressores, belicistas e injustos quanto a Inglaterra de V for Vendetta, e talvez por isso o triunfo final do terrorismo sobre o poder implantado seja tão edificante quando V conclui seu plano, é tudo um alivio, uma espécie de catarse que através da ficção adquire caráter de fuga da realidade.
Desculpem o post incompleto, durante a semana falarei mais sobre V, mais especificamente sobre o filme dos irmãos Wachowski .
É que existia a urgência afinal é 5 de novembro e algo deveria ser relembrado.
 
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