quarta-feira, novembro 08, 2006

O Dia o Curinga - Jostein Gaardner

" - Quem sou eu? , continuou ele. Por que sou um curinga? De onde venho e para onde vou? Decidi arriscar tudo numa única cartada. Voce viu todas as plantas que plantei nessa ilha, comecei. O que você diria se eu te contasse que fui eu quem criou você e também todos os outros anões do povoado?
- Nesse caso eu não teria escolha, caro Mestre. Eu teria de tentar matá-lo para recuperar minha dignidade"


"- A paciência é uma maldição de família. Há sempre um curinga que não se deixa iludir. Quem quer entender o destino, tem que sobreviver a ele.....No caso do curinga é diferente, pois ele veio ao mundo com o defeito de ver coisas demais e de ver todas elas em profundidade!"


Jostein Gaardner ficou aclamado mundialmente como o autor de “ O Mundo de Sofia”, como um jovem e talentoso escritor que transmite filosofia a crianças e adolescentes através de historias muito bem contadas, mas não se deixe enganar por esse norueguês de fala fina e literatura ágil. Ele é um Coringa.

O Dia do Coringa parte de uma premissa semelhante à de O Mundo de Sofia. O menino Hans Thomas sai em viagem pela Europa com o pai atrás da mãe que os abandonou há oito anos para ser modelo na Grécia; o pai de Thomas é um filosofo amador com problemas de alcoolismo que coleciona cartas de curinga e que durante toda a viagem incentiva o menino a pensar nas grandes perguntas da vida. Até esse momento o livro pode ser encarado como um divertido “road book” que explora a relação de pai e filho atrás da mulher que os abandonou, mas a guinada acontece quando misteriosamente o garoto recebe um pão com um livro em miniatura e uma lupa para lê-lo, nesse momento as narrativas se dividem, contando hora a trajetória de Thomas e seu pai até a Grécia e hora a história do livro dentro do livro. O pequeno livro conta uma fábula que envolve segredos matemáticos, anões, uma ilha misteriosa e uma bebida mágica de cor púrpura.

E é nos detalhes que Gaardner ganha o leitor. Tudo tem relação em sua obra, tudo é uma citação implícita ou explicita a pontos e pensamentos-chave da teologia e da filosofia, para isso o autor abusa da magia e do fascínio do baralho sobre nós. Os capítulos são os nomes das cartas sendo 53 no total, um para cada carta e um para o Curinga. No pequeno livro a fábula apresentada é sim educativa, mas passa longe de ser infantil, a sociedade que vive na ilha é composta de anões cada um representando uma carta de baralho, e com exceção do curinga, todos são alienados e não sabem o motivo de sua existência e nem buscam saber, quase um Mito da Caverna moderno. A bebida mágica de cor púrpura é deliciosa e causa uma ampliação dos sentidos e um vício quase que imediato ao mesmo tempo que destrói a consciência de quem as bebe. É dessa forma através de charadas matemáticas, sugestões e citações que Gardner explora alienação social, vícios e virtudes, existencialismo e religião para nos entregar um delicioso livro que parece um misto de “Platão, Aristóteles and Friends” com Alice no País das Maravilhas.

Para Gaardner ser um Curinga é enxergar aquilo que ninguém enxerga e perguntar aquilo que ninguém pergunta por não existir uma resposta empírica; a magia está no caminho entre a pergunta e a resposta. Nem na partida, nem na chegada, no caminho



Bibliografia do Autor aqui




1 Comentário:

Anônimo disse...

fino, curti o texto... e me deixou instigado pra ler o livro... vou ver se consigo na biblioteca... valew!

 
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