sábado, abril 09, 2011

Bravura Indômita - True Grit (2010)


 
"- Who's the best marshal they have?
- Bill Waters is the best tracker.
                   
The meanest one is Rooster Cogburn,
double-tough, knows no fear.
                    
L T Quinn is the straightest.
He brings them in alive.
                  
- Where would I find this Rooster?
- At the Federal Court this afternoon."
"- Mr Rooster Cogburn?
- What is it?

   
                   
I'd like to talk with you a minute.
They say you're a man with true grit."


Faroeste ou Road Movie?

Parece bobagem discutir esse ponto de vista diante da realização tão bem executada do remake da década de 60, “Bravura Indômita”, que nas mãos hábeis dos irmãos Cohen transformou-se de forma prodigiosa em um amálgama de humor negro, western e atuações harmoniosamente convincentes.

A primeira vista, parece que tudo caminha para uma tradicional(e deliciosa) história de faroeste americano. A jovem Mattie Ross(Hailen Steinfeld) obcecada por vingar a morte de seu pai, contrata o oficial beberrão em decadência Rooster Cogburn(Jeff Bridges) para perseguir o pilantra Tom Chaney(Josh Bronlin). No rastro do bandido, correndo por fora o “Texas Ranger” La Boeuf(Matt Dammon), tropeça na dupla e tenta tirar vantagem dos talentos de “rastreador” de Cogburn.
O problema é que Chaney se misturou ao bando do escroque Ned Pepper e ruma de forma desconhecida pelas terras ermas do oeste americano.

Pois bem cara-pálida com o cenário armado para as balas começarem a rolar, a impressão que tive é que de forma assertiva e decidida o roteiro, dos também diretores Ethan e Joel, economiza tiros e despeja verborragia e sentimento, sarcasmo e lirismo, tudo planejado e bem esquadrinhado.

Nesse momento que senti o espírito dissonante de um road movie de cavalos começar a surgir. Primeiro que todas as personagens principais não pertencem ao lugar onde estão. Mattie, está longe de casa atrás do assassino de seu pai, Cogburn, como um U.S. Marshall, não tem moradia fixa, mas trabalhos a serem executados e LaBoeuf vêm desde o Texas perseguindo Chaney e colecionando fracassos.

Seus caminhos se cruzam e a amizade e os sentimentos desenvolvidos por eles acontecem em momentos de teste de caráter e perseverança “à caminho” de um objetivo - na estrada por assim dizer. É assim quando Mattie cruza o rio a cavalo, quando LaBoeuf demonstra bravura em uma tocaia, ou ainda quando Cogburn tenta provar seu valor atirando em broas de milho...

Ao dividirem uma fogueira, falarem sobre direito ou histórias de vida fica evidente as diferenças de caráter e personalidade do trio de protagonistas que não se encaixam em perfis de bondade/maldade convencionais e como a situação de “viajantes com um objetivo em comum” evidencia a união do grupo.

Mattie é sistemática, perspicaz e surpreendentemente madura para seus 14 anos, ao mesmo tempo seu caráter não é lá uma singeleza. Desde o início do filme ela exige vingança, o que significa a morte de Chaney. Perceba que ela faz questão que a morte seja fruto do crime cometido contra seu pai, para ela uma forca no Texas não torna sua vendeta válida.

Cogburn é um beberrão escolhido por Mattie pela sua falta de escrúpulos na hora de perseguir um foragido. Quase sempre bêbado ele parece mais um escroque falido que um pistoleiro experiente, apesar de ser ambos.

LaBoeuf é quase caricato, com suas esporas, alto grau de instrução e precisão cirúrgica com as armas, cabe a ele mostrar que no western de Bravura Indômita o “melhor” homem, não será necessariamente o mais eficiente. Apesar de ser mais jovem que Cogburn e claramente mais instruído que Mattie, LaBoeuf fica constantemente encurralado por ambos, perde as discussões para a garota e vê a bravura e experiência de Cogburn triunfarem aos poucos, enquanto a trilha que leva a Chaney é revelada.

Com tudo isso o filme encontra ainda espaço para tiradas sarcásticas sensacionais como as últimas palavras de um índio negadas na forca ou as crianças, também indígenas, sendo chutadas sem mais nem porquê.

O elenco está absurdo. Jeff Bridges entrega uma fala arrastada e quase ininteligível, pesadelo para os tradutores, que cumpre seu papel de parecer o tempo todo bêbado ou entorpecido. Steinfeld convence no papel de garota prodígio e é dela a força da narrativa que permite que as outras personagens flutuem ao redor de seu magnetismo. Dammon e Brolin são verossímeis na medida e cheios de detalhes mínimos que reforçam a credibilidade de seus papéis.

Talvez o destaque técnico mais assombrosamente visível seja a fotografia de Roger Deakins que dá ao filme momentos de um lirismo quase desconexo. A cena final merece um prêmio à parte pela emoção entregue ao público de forma catártica, com verdadeiro heroísmo como há muito não se via em um faroeste.

Junte a isso os rompantes de violência(subliminar ou direta) característicos da filmografia dos Cohen e terá um espécime diferente do original e de quase qualquer outra obra do gênero.

Sem descambar para o sentimentalismo barato, Cogburn encontra sim sua redenção em Mattie, assumindo um papel paternal no qual revela ter fracassado anteriormente. De volta recebe dela um tratamento filial, em uma das últimas cenas do filme, uma “viagem” de trem que espero que todos compreendam. Falar mais poderia estragar a diversão de quem ainda não assistiu.

E por falar em viagem, reforço aqui os argumentos iniciais. Nesse road movie adaptado, as seqüências que dão cor e textura ao filme acontecem entre uma parada e outra. Nos encontros pelo caminho com cadáveres presos em árvores, em cabanas isoladas, em desfiladeiros ou minas abandonadas. Não existe um ponto fixo, uma referência, só o caminho a ser seguido e a aventura que se desenvolve por ele.

“Telma e Louise” ou “Paris Texas”, “Easy Rider” ou “Rain Man”, nada pode ser feito quando o destino vivido na estrada exige seu espaço entre os atores e o roteiro. De carro ou à cavalo, em rodovias, no deserto ou no oeste selvagem o espírito é o mesmo.

As personagens caminham para o imprevisível à sua frente, se a morte ou a redenção as espera na próxima curva isso é uma resposta que só o público pode descobrir sem arcar com as conseqüências. Sabemos que se trata de um road movie quando nos perguntamos: E se as personagens parassem aqui, se sentassem, e interrompessem sua jornada e resolvessem seus problemas por aqui mesmo? E temos como resposta: Impossível, o filme terminaria sem final.

Para nossa sorte existem ainda seres de “Bravura Indômita” para seguirem seus caminhos enquanto assistimos.

Um triunfo cinematográfico cheio de estilo.

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