"... In the clearing stands a boxer
And a fighter by his trade
And he carries the reminders
Of ev'ry glove that layed him down
Or cut him till he cried out
In his anger and his shame
"I am leaving, I am leaving"
But the fighter still remains
Lie la lie..."
And a fighter by his trade
And he carries the reminders
Of ev'ry glove that layed him down
Or cut him till he cried out
In his anger and his shame
"I am leaving, I am leaving"
But the fighter still remains
Lie la lie..."
(Simon and Garfunkel - The Boxer)
O lutador de boxe é uma figura icônica. Quase todos campeões que triunfaram sobre os ringues e levantaram um cinturão mundial possuem uma história de superação marcante na trajetória que tornaram seus punhos os mais temidos de uma época.
Mick Ward não foi diferente. Campeão dos pesos médios em 2000 teve sua história narrada no filme “O Vencedor”(The Fighter) que concorreu ao Oscar de Melhor Filme.
A “profissão” de lutador é bem diferente da luta praticada como esporte e isso influencia muito a história de seus protagonistas. A grande maioria dos homens e mulheres que aceitavam entrar em um ringue para trocar socos com um adversário arriscando com isso sua integridade física não o fazia pela simples arte de competir, mas por algo mais, geralmente por sobrevivência ou por uma vida melhor longe da miséria dos subúrbios.
Trabalhadores braçais, jovens pobres, imigrantes longe de casa, marginalizados e excluídos por preconceitos raciais de cor ou credo, era essa a matéria prima que gerou grandes campeões de boxe, que lutavam contra os próprios destinos antes de nocautear o lutador do outro corner.
Ward lutava contra inimigos invisíveis que quase destruíram sua carreira. Filho de uma conturbada família de imigrantes irlandeses, viveu sob a sombra de seu irmão mais velho, o também ex-boxeador Dick Ecklund, adorado no microuniverso familiar e bairrista por tudo o que quase foi ao protagonizar um embate histórico contra a lenda Sugar Ray Leonard.
Esse embate serve como assunto recorrente nas linhas do roteiro que mostram toda a frustração de Ward que não consegue ser protagonista de sua própria carreira ofuscado pelo irmão - que é na realidade a ovelha negra da família.
Ecklund jogou pelo ralo uma carreira promissora e se entregou ao vício do crack. Passou a viver como junkie que dividia seu tempo treinando Ward e gravando um documentário sobre a decadência dos viciados para um canal de TV que alimentava seu estilo de vida com uns trocados em troca de sua imagem. Nessa rotina é visível a diferença de personalidades dos irmãos que parecem uma parábola do filho pródigo atualizada.
O mais velho nesse caso é aquele que gastou todos seus bens(nesse caso seus dons) e partiu para uma jornada de satisfações pessoais retornando para a família quando percebeu estar no fundo do poço.
Ward é o bom irmão, ajuizado, obstinado em seus treinos, trabalhador, e dedicado não somente aos planos que traçou para ele, mas para todos aos quais ama. Seu sonho não é pessoal, mas coletivo, a luta pelo cinturão é uma causa de família derivada da trajetória frustrante de Ecklund. Até sua postura no ringue reflete isso, Ward resistia a mais pancadas que um lutador comum, batia igual, mas agüentava mais - lembrando um pouco inclusive Jake La Motta.
Nessa relação é clara a predileção da mãe pelo filho mais velho, que é de certa forma “mimado” com uma proteção e veneração que ignora suas idas e vindas recorrentes à cadeia.
Assim como os grandes acontecimentos que marcam a história mundial, e em um recorte particular, a história de qualquer esporte, conhecemos apenas a visão dos vencedores, aquele que por um motivo ou outro se destacaram dos ordinários e medíocres delegados ao esquecimento. E Ward sabia disso. Compreendia que para ser mais que um herói de bairro, como seu irmão teria, que travar lutas pessoais dificílimas antes de subir no ringue e destroçar as costelas de seus adversários. E isso significaria ser duro e até renegar a mãe e o irmão pelos quais possuía legítima adoração.
A história só foi para as telas pela dedicação do ator Mark Walbergh, que além de produzir o longa ficou com o papel principal.
O resultado? Um filme sensato, sem muitos floreios, mas com escolhas certas.
As câmeras são antigas, no sentido literal da palavra. Opção do diretor David O´Russel que imaginou que somente dessa forma conseguiria o efeito planejado que funciona de forma magnífica.
Apoiado por uma fotografia com luzes frias e um movimento constante de câmera sem apoio(a famosa “mãos a obra”) o filme muitas vezes adquire uma cara de documentário.
As excelentes atuações de Melissa Leo como Alice, a mãe do lutador, e de Christian Bale como Ecklund, sustentam a ausência de brilho pessoal de Ward/Walbergh, repetindo no casting as linhas do roteiro. Tanto que ambos receberam com justiça os Oscars de ator/atriz coadjuvante pelo filme.
Acertadamente, “O Vencedor” retrata mais do que apenas a carreira de Ward, mas todo o drama ao redor dela.
Na construção e eficácia não chega aos pés de “Touro Indomável”, e essa comparação, apesar de injusta é necessária, porque sempre é a primeira que surge quando um filme sobre boxe é lançado.
A história é previsível por natureza: começo difícil, ápice redentor. Com um número necessário de clichês e uma quantidade reduzida de cenas de luta de qualidade, o filme vence, como diz o título, não por falar de boxe ou de um ex-campeão, mas por falar de alguém que lutou contra um destino medíocre para se tornar algo mais e cravar seu nome na história.
Vencer não é um resultado, mas um processo.
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