sábado, abril 09, 2011

A Rede Social - Social Network




O assunto é propício, a realização coerente e suas personagens são reais, mas, muito além disso, “A Rede Social” tem algo em seu DNA que o torna mais que um grande filme: um retrato fiel sobre a modernidade e as relações sociais.

A história aparentemente não tem começo nem fim, não tem clímax, poucas cenas de romance, nenhuma de ação ou suspense...As personagens transitam sobre o imã central da trama o criador(ou um dos criadores) do “Facebook”, Mark Zuckerberg e sua forma pouco convencional de lidar com pessoas, relacionamentos e situações. Como explicar então o sucesso formidável da obra como um todo?

Não se engane. Do início ao fim, o filme é bem construído, ao começar pelo roteiro que amarra cada personagem e prende tudo ao redor da história e do conflito que acabou nos tribunais na disputa pela autoria da “idéia de ouro” que deu origem a rede social mais popular do mundo. A narrativa transcorre fluída e em nenhum momento existe o protagonismo desse ou daquele elemento individual.

David Fincher encontrou um equilíbrio perfeito para sua câmera, que antes adaptada ao ritmo frenético dos vídeo clips, agora se encontra quase documental. Um elemento régio, parte do cenário sob este ou aquele ângulo, que registra de forma imparcial e silenciosa a ação das personagens. Se fosse necessária uma palavra para descrever a direção do filme seria: imparcial. Duas? Imparcial e discreta.

Bem diferente de outros filmes que cheios de rebusques e ângulos rocambolescos chamam a atenção para a figura do diretor, podemos dizer que no caso de “A Rede Social” menos é mais.

O elenco é um dos principais, se não o principal, trunfos do filme que necessitava de uma atuação impecável para dar cor e brilho a história de personagens que além de reais ainda estão vivas e jovens. Imagine o fiasco de uma atuação medíocre?

Jesse Aisenberg, como Zuckerberg, Andrew Garfield como o brasileiro Eduardo Saverin e Armie Hammer como os gêmeos Cameron Winklevoss/Tyler Winklevoss conseguem sem preciosismo ressaltar cada elemento da personalidade de seus alteregos. Ponto para quem selecionou o elenco. Surpreendente inclusive a participação do ex-Spears e boy singer Justin Timberlake que não compromete ao interpretar Sean Parker, o criador do Napster.

Difícil definir aqui e ainda mais explicar para quem lê sem ter assistido a relevância da produção como obra cinematográfica. O filme não é necessariamente entretenimento e também não é um tratado sociológico ou antropológico apesar de transitar por vários desses caminhos.

O que vemos apesar da frieza dos fatos e da luta judicial que rondou os criadores do “Facebook” são ações e reações exclusivamente humanas.

A esperteza de um escroque intelectual mulherengo como Sean Parker mostra que nem sempre intelecto significa sucesso. A amizade de Zuckerberg e Saverin mostra como as vezes é complicado o relacionamento entre pessoas que por sua genialidade acabam criando formas próprias de auto-defesa. O protagonista inclusive se mostra arrogante, inescrupuloso, invejoso e em muitos momentos quase psicótico, parece impossível convencê-lo da necessidade de outros seres humanos.

Os gêmeos Winkelevoss também oferecem um contraponto interessante a história. São ricos, populares e pertencem a nata intelectual e esportiva de Harvard. São “enganados” por Zuckerberg que acaba “adaptando” uma idéia original e criando nas suas costas o “Facebook”.Sem mocinhos ou bandidos esse episódio é retratado como é. O facebook não existiria sem um ou sem outro.

Deixo aqui para encerrar a cereja do bolo. A cena que me causou um grande encantamento e ganhou minha torcida pelo sucesso do filme.

A última cena mostra Zuckerberg solicitando via “facebook” a permissão de amizade de sua ex-namorada. Ele atualiza a cada segundo repetitivamente a tela de seu monitor.

Com isso lembramos que o filme tem inicio com o término da relação dos dois, com a vendeta de Zuckerberg que insultou em seu blog a ex-namorada e decidiu criar um aplicativo para irritar as mulheres do campus comparando seus atributos. Dessa experiência surge tudo. 


 Refaço aqui um comentário escrito no começo deste texto. Depois da cena final conseguimos visualizar o inicio o meio e o fim(que sempre estiveram lá) e percebemos que as grandes histórias, reais ou não, famosas ou não, envolvem inevitavelmente homens e mulheres, relacionamentos e suas conseqüências. Alguém que aperta repetitivamente uma tecla em busca de um amor, uma amizade...etc.

Difícil imaginar que o “Facebook” surgiu porque alguém brigou com a namorada, ou porque era um nerd excluído em busca de aceitação, mas nem tudo precisa ser complicado como a gente imagina. Afinal uma rede social de duas ou de duas mil pessoas fala sobre a mesma coisa: comunicação.

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