terça-feira, abril 05, 2011

Cinema Catástrofe




Significado de Catástrofe

s.f. Grande desgraça, acontecimento funesto, calamidade.
Fim lastimoso.
Literatura Acontecimento decisivo que leva ao final de uma tragédia.
(Do Gr. katastrophe)

Ligo a televisão após o jantar, dou boa noite religiosamente ao apresentador do telejornal e quando percebo parece que estou dentro de um filme. E daqueles bem ruins para suas personagens. Nos últimos meses de alguns anos para cá, terremotos na China, no Chile, Haiti, e em mais meia dúzia de cidades, chuvas e inundações matando milhares e atingindo milhões no meu país tropical, São Paulo até vá lá estamos acostumados, mas Salvador? “O sertão vai virar mar” diria Antônio Conselheiro. 

Ninguém se quer conhecia a palavra "Tsunami"... eu mesmo achava que era apenas algum fáctóide de mitologia nórdica, até acontecer no Japão.

Vulcão sem atividade a milhares de anos desperta, avião com presidente cai, morro desmorona, faltaram só naves alienígenas invadirem a Bulgária...

Espero a qualquer minuto minha solene apoplexia no sofá ser interrompida pelos créditos do filme com o nome do estúdio.

Quando o tema é catástrofe ninguém mais percebe a diferença entre ir ao cinema e abrir o jornal do dia. Saudade da época(recente) aonde os filmes desse gênero estavam mais para ficção do que para documentário.

Quem tem um pouco mais de 20 anos e sempre gostou da sétima arte, deve se lembrar que a semana de 4 de Julho de 1996 foi marcada por expectativa e filas nos cinemas pelo mundo. O dia da independência dos Estados Unidos marcou a história do cinema, e não adianta torcer o nariz para as bandeiras tremulando e a papagaiada ideológica(até no título !) que às vezes embrulha o estômago, porque “Independence Day”, de Rolland Emerich, foi o marco mais significativo da nova leva de filmes catástrofe que perduram até hoje.

O cinema sempre teve uma queda declarada pela tragédia, e quando digo isso não estou falando do significado grego antigo, ou os famosos dramalhões, mas da definição que hoje se emparelha ao de  hecatombe: Corpos se empilhando pela fragilidade humana de resistir a um poder superior e agressivo, geralmente uma força natural ou desconhecida.

Não é de agora que as produções de Hollywood flertam com terremotos, maremotos, vulcões, aviões em pane, transatlânticos afundando e praticamente qualquer coisa que ofereça muito, muito apelo melodramático. “Aeroporto” de George Seaton é considerado o primeiro exemplar genuíno do gênero que inaugurou uma longa lista, que só na década de 70, conta com: “Inferno na Torre” de John Gullemin e Irwin Allen, “O Destino de Poseidon” de Ronald Neame, “Terremoto” de Mark Robson, entre outros.

Os filmes catástrofe estouraram; literalmente... mas como um balão colorido e pomposo tiveram uma breve vida. Devido a inúmeras limitações técnicas que tornavam quase impossível a reprodução fidedigna da maior parte das desgraças que despontavam logo no título das produções o público perdeu o interesse, afinal não tinha graça ver um terremoto ruindo maquetes claramente de isopor...

Em 1996, algo novo estava preste a acontecer. Os efeitos especiais foram aperfeiçoados nas décadas de 70 e 80, sobretudo explorando os ambientes e mundos fantásticos da ficção científica e estavam à caminho de avançar sobre um novo desafio: tornar crível as maiores tragédias naturais e desconhecidas - de um cataclismo à uma invasão alienígena, chegando sorrateiramente pela porta da cozinha do cotidiano da dona de casa.

Méritos para os desbravadores.

Me lembro de como fiquei boquiaberto da primeira vez que assisti “Independence Day” e “Twister”(com a vaca voando). Não era nenhum tapado em cinema e mesmo assim tive a sensação de que não tinha visto nada parecido e que talvez nunca veria novamente...

Hoje com a monotonia da repetição a primeira leva de filmes catástrofe pós anos 90 que trouxe ainda “O Inferno de Dante”, “Armagedon”, “Godzilla” e “Impacto Profundo”, parece esquálida e sem graça, mas na época me lembro bem da sensação que era ver “aquele filme do vulcão”, “aquele outro do asteróide”, “aquele do lagarto do tamanho de prédios”...

Grosso modo, podemos dizer que tínhamos visto coisas muito mais fantásticas antes com “Guerra nas Estrelas” ou “2001 – uma Odisséia no Espaço” mas dessa vez o apelo ao público era diferente.

Os efeitos especiais tinham um propósito mais obscuro, o de trazer para a realidade o apocalipse, o fim da humanidade, a revolta da natureza... Quase nenhuma profecia do livro bíblico de São João foi esquecida para gerar mais e mais roteiros que de falas mesmo, eram ralos.

Pelo que observo atualmente, e fazendo uma auto-análise, os estúdios em breve estarão em maus lençóis. Há pelo menos 5 anos ignoro qualquer filme que destrua Nova York com profecias maias, pragas bíblicas, desequilíbrios solares, alienígenas, monstros e coisas do gênero.

Tomo conhecimento parcial e desinteressado por barcos à deriva, aviões em pane, vírus mortais e dramas em geral que incluem prédios e construções desabando, bombas explodindo, caos e terrorismo de milhares.

A cada ano a arrecadação dos “blockbusters catástrofe” despenca pelo mundo e nenhum produtor parece entender. O povão tá querendo ver super-heróis salvando o dia no final de semana(não sei até quando...).

A população está ficando cansada de tragédia de segunda à sexta-feira no noticiário, esta percebendo que aquele “papo” de que a natureza reage ao mau uso que fazemos do planeta é verdadeiro e que em breve teremos sim mais e mais problemas com fogo, ar, terra e água; seja em excesso ou escassez. Aviões caem, prédios desmoronam, navios afundam e ultimamente parecem mais propícios a obedecerem estas diretrizes. Faltam somente asteróides, monstros japoneses e extraterrestres.

Respondo boa noite ao fim do telejornal, mas dormir tranqüilo mesmo... Foi-se o tempo.



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