Chapter Thirteen...
"He types... On the SOUNDTRACK we hear the CASINO noise.
JACK'S VOICE
It's all numbers, the croupier
thought. A spin of the wheel. A
turn of a card. The time of your
life. The date of your birth. The
year of your death. In the Book of
Numbers the Lord said: 'thou shalt
count thy steps" (Croupier - by Paul Mayersberg)Parte da atração em ser um apreciador de cinema é colecionar hábitos inconvencionais em relação à grande maioria de espectadores casuais.
Estudar formatos, tendências, reconhecer o estilo de cada diretor, a filmografia de atores prediletos, colecionar trilhas sonoras, ser fã número 1 do editor de som fulano, saber de trás para frente os filmes lançados na Eslovênia na década de 70; os fetiches cinematográficos se manifestam em pequenos graus de curiosidade até um estado de obsessão bem próximo da paranóia.
Uma vez conheci um cara que tinha transtorno obsessivo compulsivo e piscava desesperadamente a cada cinco segundos. Menos quando assistia à um clássico do cinema italiano - Rosselini, Pasolini, Antonioni e principalmente Fellini, tinham um poder curativo quase shamanístico sobre ele.
Com tantas manias na prateleira para escolher, confesso que no início de minha vida de cinéfilo foi inevitável não ceder a tentação de ler roteiros.
Começou lá pelos meus dezesseis anos, quando já lia alguma coisa em inglês sem maiores dificuldades, e despertei minha audição para a genialidade de alguns diálogos que adorava guardar e repetir.
O acesso aos roteiros não era uma das coisas mais fáceis de se ter em mãos naquela época, me lembro que a Internet discada era uma porcaria, o número de sites sobre cinema era bastante reduzido e achar roteiros na web era procurar agulhas em um palheiro.
Nos primeiros anos, me deliciava em repetir exaustivamente no vídeo cassete minhas cenas prediletas, enquanto anotava em um bloquinho os diálogos em inglês.
Foi assim com “Táxi Driver”, “Blade Runner”, “Cães de Aluguel”, “Duro de Matar” “Máquina Mortífera”, e tantos outros nomes que eram selecionados somente pelo critério de número de frases bacanas de serem lembradas, sem preconceito com qualquer filme, adorava alguns diálogos de “Viagem Insólita”, “Os Goonies” e “Exterminador do Futuro 2”.
Travis:
Loneliness has followed me all my life. The life of loneliness pursues me wherever I go: in bars, cars, coffee shops, theaters, stores, sidewalks. There is no escape. I am God's lonely man.
I am not a fool. I will no longer fool myself. I will no longer let myself fall apart, become a joke and object of ridicule. I know there is no longer any hope. I cannot continue this hollow, empty fight. I must sleep. What hope is there for me?(Taxi Driver - by Paul Schrader)
Após um tempo esse hábito virou um hobby bastante prazeroso, com a melhora da Internet e do ambiente de rede já era possível encontrar um ou outro roteiro para ler.
Achei no sebo uma vez uma tradução do roteiro de “Laranja Mecânica” e até hoje dou risada quando lembro minha satisfação.
Organizei em meu computador pessoal mais de cinqüenta frases selecionadas -que dariam um bom livro cheguei a pensar.
Aí passei na faculdade de jornalismo. O tempo ficou escasso e um belo dia meu computador queimou colocando fim de forma irremediável ao meu arquivo pessoal.
Como um vício é recorrente, uma hora ou outra sempre acabo por ler um roteiro ao invés de ler um livro. Sugiro a experiência, é um pouco estranho no começo, mas depois se torna tão agradável quanto ler um bom romance.
Por isso deixo aqui dicas de roteiros infalíveis para a leitura de um iniciante.
Qualquer um dos roteiros de longas assinados por Quentin Tarantino são um deleite; as linhas narrativas e diálogos cheios de sacadas e humor negro são realmente demais.
A maioria dos filmes de David Mammet também oferecem roteiros muito interessantes, que nem sempre atingem na execução o potencial das linhas, as tramas apresentam bons momentos de suspense e reviravoltas.
Aconselho a maioria dos suspenses policiais e desaconselho comédias e filmes de terror, que perdem muito sem o poder das imagens.
Para encerrar, existem ainda roteiros irresistíveis pela sua construção, pela narração em off das personagens. Alguns de meus prediletos estão entre eles: “Clube da Luta”, “Táxi Driver” e “Croupier”.
O que motivou este artigo foi um pequeno trecho do roteiro do filme “Croupier”, talvez a mais desconhecida das indicações citadas. Surgiu como uma recaída nessa semana aonde os números me perseguiram em datas, códigos, senhas, horas, limites, me peguei repetindo de cor um trecho que não lia há anos:
Tyler tugs at Jack's arm.
TYLER
We are God's middle children, with no special place in history and no special attention. Unless we get God's attention, we have no hope of damnation or redemption.
Jack looks at Tyler and they lock eyes in a stare.
TYLER
The lower you fall, the higher you fly. The farther you run, the more God wants you back.
Jack does his best to stifle his spasms and quivers of pain. Tears drip from his eyes.
TYLER
Someday, you will die. And until you know that, you're useless to me.
Tyler's eyes fill with tears and he smiles. Suddenly, Jack starts breathing heavily and he shakes his hand....( Fight Club - Jim Uhls)
“ É tudo números pensou o croupier. O girar da roleta. A virada de uma carta. O tempo da sua vida. A data do seu nascimento. O ano de sua morte. No Livro dos Números, o Senhor disse – Contarei vossos passos”
Quem estava perto pensou que eu era louco. Com um pequeno sorriso voltei para a casa e reli o roteiro completo. Louco não, só mais um cinéfilo cheio de manias.
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