terça-feira, março 15, 2011

O Machismo Encantador de Mad Men



"Nostalgia - it's delicate, but potent. Teddy told me that in Greek, "nostalgia" literally means "the pain from an old wound." It's a twinge in your heart far more powerful than memory alone. This device isn't a spaceship, it's a time machine. It goes backwards, and forwards... it takes us to a place where we ache to go again. It's not called the wheel, it's called the carousel. It let's us travel the way a child travels - around and around, and back home again, to a place where we know are loved."

"Nostalgia - é delicada, mas potente. Teddy me disse que na Grécia, "nostalgia" literalmente quer dizer, "a dor de uma velha ferida". É uma agulhada em seu coração, de longe mais poderosa que a memória. Este dispositivo não é uma espaçonave, é uma máquina do tempo.. Ela vai para trás e para frente... nos leva para um lugar aonde gostaríamos de estar de novo. Não é chamado de "A Roda", é chamado de "O Carrossel". Ele nos permite viajar do jeito que as crianças viajam, girando e girando e voltando para a casa novamente, para o lugar onde nós sabemosq ue somos amados."

(Don Drapper, apresentando The Carrossel of Kodak, in the 1° Season Finale - episódio: The Wheel)

Aproveitando o resto que sobrava de minhas férias fui tomado por uma grande curiosidade quando vi a cerimônia do Globo de Ouro 2010 premiar pela terceira vez consecutiva “Mad Men” com o prêmio de melhor série dramática.

Em minha poltrona apostava as fichas para um triunfo triplo da quarta temporada de “Dexter”, que segundo meus palpites, levaria os prêmios de “Melhor Ator”, “Melhor Ator Coadjuvante” e “Melhor Série” na categoria Drama. Fiquei surpreso ao perceber que Michael C. Hall e John Lithgow confirmaram minhas expectativas, mas que a série produzida pelo canal HBO quebrou todos os prognósticos que havia lido e faturou seu terceiro prêmio consecutivo.

Sei que Nelson Rodrigues alertava com sua famosa frase sobre os consensos: “Toda unanimidade é burra”, mas decidi checar por conta própria se “Mad Men” merecia seus prêmios ou se era tudo um grande golpe publicitário.

Era tudo realmente um grande golpe publicitário. Literalmente, mas sem nenhum demérito. A série vale cada minuto, ao mostrar de forma charmosa e encantadora o dia-a-dia da agência de publicidades fictícia “Sterling Cooper” em um esfumaçado Estados Unidos da década de 60.

Com o nome retirado do apelido dado aos publicitários da Madison Avenue, Mad Men, traz para a televisão um requinte de produção soberbo cheio de minúcias e traços fiéis a uma época peculiar e nostálgica.

Impossível resistir aos charmosos ambientes decorados em tons pastéis e ao desfile de itens históricos que passam diante de nossos olhos com naturalidade - as máquinas de escrever, os primeiros logos de marcas mundialmente famosas, os ternos impecáveis de corte reto, os vestidos acinturados, os automóveis robustos e agigantados...

Ao mesmo tempo a cada episódio as “novidades” do mercado mundial aterrissam em tela  trazendo ainda mais nostalgia; o desodorante em spray , o carrossel Kodak de slides e o pequeno fusca alemão.
Sem perceber o espectador mergulha em uma aula de história que ressuscita não somente a estética de uma época, mas todo seus costumes. A antropologia vestida com glamour para um encontro à dois aonde sem dúvida, o homem dita as regras.

Fica nítido em cada um dos episódios o “machismo” de uma época aonde o feminismo não havia destruído a feminilidade.

A mulher recupera em “Mad Men” um status diferenciado sendo tratada sob um rígido protocolo que vai além de apenas retirar o chapéu na presença de uma dama. Esse esmero de cuidados, muitas vezes confundido com um cerceamento da liberdade individual, demonstra que a mulher na realidade ocupa um papel central na trama.

Enquanto certamente algumas feministas radicais irão demonizar a série, a maioria dos homens e mulheres sentirão uma ponta de curiosidade sobre como seria viver em um momento histórico tão peculiar.

Regendo a orquestra afinada de “Mad Men” está Don Draper, o chefe de criação da Sterling-Cooper em uma interpretação impecável do ator John Hamm.
Draper é a caracterização perfeita dos maiores protagonistas dos romances americanos do início do século passado. Com seu rosto quadrado quase sem ângulos, de características marcantes, lembra tanto os detetives de romances noir quanto os canalhas espreitando nas mesas de bar.
Sua história de passado obscuro sob seu momento brilhante de gênio criativo em ascensão é o que dá fôlego à série e permite que sua personalidade roube a cena.

Como pano de fundo a sociedade norte americana da década de 60 é mostrada por um jogo de contrastes interessante. Peggy Olsen, a mocinha ingênua que tenta a sorte na cidade grande, é o contrário de Joan Hollooway, a secretária sexy, inteligente e decidida. O arrogante e ambicioso executivo junior Peter Campbel é o contrário do comedido e experiente Bertran Cooper, sócio majoritário da Sterling Cooper. A esposa devotada de Draper, interpretada pela bela January Jones é a rainha do lar, tratada com esmeros e regalos, aonde até o amor só é feito com luzes apagadas; o contrário da ilustradora vivida por Rosemarie DeWitti, amante, representante de diversas vertentes marginalizadas da época, ela simboliza as gerações hippie e beat e traz às telas o consumo de drogas “recreativas” que cresciam naquele instante.

O homossexualismo também é retratado de forma sutil através da personagem Salvatore Romano, um desenhista de origem ítalo-americana que faz parte da equipe de criação de Draper.
O anti-semitismo, a crise do tabaco, as eleições de Kenedy vs. Nixon, o fundo histórico parece trazer temas interessantes inesgotáveis para os episódios.

Completa e inteligente, “Mad Men” confirmou todas minhas expectativas positivas. Sem a necessidade de grandes arroubos emocionais de aviões caindo em ilhas fantasmagóricas ou super-agentes desvendando crimes capazes de comprometer a segurança nacional a série parece ter atingido outro patamar. Um patamar de elegância, estilo e sofisticação que só existia na década de 60.
Azar de quem achar machista, eu achei fantástico.



1 Comentário:

Anônimo disse...

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