domingo, março 27, 2011

Na Natureza Selvagem


“Morrendo longe da civilização, Um Andarilho Registrou o Terror

Anchorage, 12 de setembro(AP) – No domingo passado, um jovem andarilho, detido por um ferimento, foi encontrado morto num acampamento remoto no interior do Alasca. Ninguém sabe ao certo quem era ele. Mas seu diário e dois bilhetes encontrados no acampamento contam uma história angustiante de seus esforços desesperados e progressivamente inúteis para sobreviver...”

( The New York Times, 13 de Setembro de 1992)

“S.O.S. Preciso de sua ajuda. Estou ferido, quase morto e fraco demais para sair daqui. Estou sozinho, isto não é piada. Em nome de Deus, por favor fique para me salvar. Estou catando frutas por perto e devo voltar esta tarde obrigado.” (Bilhete encontrado com o corpo de McCandless)

“Tive uma vida feliz e agradeço a Deus. Adeus e que Deus abençoe a todos” (Nota de despedida escrita por McCandless no verso do poema “Homens Sábios em Suas Horas Ruins” de Robinson Jeffers)

Poucas notícias chamaram mais a atenção, em 1992, do que a história do jovem Christopher MacCandless.

Encontrado no meio do Alaska por caçadores de alce, morto provavelmente de inanição, seu corpo pesava pouco mais de 30 quilos e chocou a opinião pública nos Estados Unidos.

Proveniente de uma família rica, MacCandles terminou a faculdade como um aluno distinto, com altas notas em disciplinas humanas e sociais, e desapareceu. Doou sua poupança para entidades beneficentes, abandonou seu automóvel, queimou o dinheiro que tinha na carteira, adotou o nome de Alex e passou a vagar às margens da sociedade.

Leitor de Tolstói e Jack London, de personalidade amigável e equilibrada, os dois anos vividos na “estrada” revelam um jovem em uma busca perturbadora por uma forma verídica de autoconhecimento, através da negação completa dos bens materiais e de tudo que é desnecessário para a vida, estabelece para si uma luta constante contra os próprios medos e contra o improvável.

A vida resumida à viagens de carona, a uma mochila, e ao mínimo de conforto possível. No caminho o trabalho temporário fornece o dinheiro apenas para seguir em frente, sem nenhum apego ou acúmulo desnecessário. O convívio com marginalizados, excluídos, hippies, vagabundos e trabalhadores braçais substitui a vida universitária promissora.
Como objetivo maior: viver da terra. Enfrentar a natureza selvagem.

MacCandless não foi capaz de sobreviver à própria história, e seus dois últimos anos de vida foram reconstruídos pelo repórter Jon Krakauer que ficou fascinado com o idealismo puro e inconseqüente do jovem. Em 2007, Sean Penn dirigiu com brilhantismo um filme fiel aos relatos poderosos, com uma narrativa ágil e bem construída, a produção tem o mérito de ser em sua essência tão perturbadora quanto o livro.

Alex ou Chris se tornou assim um mito entre os viajantes, entre os aventureiros, entre todos que aprovam ou desaprovam as atitudes da juventude levadas às últimas conseqüências.
Herói ou vilão a discussão sobre a curta trajetória de aventura de MacCandless serviu como um alerta à muitas coisas.

Deixou para a sociedade um debate cáustico sobre nosso modo de vida, mostrou para todos os aventureiros que a natureza pode ser impiedosa quando quer e que qualquer atitude, por mais heróica que seja, pode ser apenas um suicídio estúpido se não for planejada com o devido cuidado.

Idolatrado por alguns pela sua coragem e condenado por outros pelo idealismo inconseqüente, acredito que Chris atingiu seu maior propósito: fazer a diferença, deixar o seu recado.

Chegam a ser comoventes as anotações que restaram junto ao corpo encontrado na carcaça de ônibus no meio do Alaska. Imaginar suas privações e talvez a mais dolorosa das mortes, definhando de fome e sede, causam um desconforto quase indecifrável.

A realidade, porém, é dura. Chris era um jovem brilhante, mas assim como todos tinha suas diferenças e conflitos com seus pais; corajoso e determinado, parece ter planejado mais sua ideologia irredutível contra os argumentos de todos que o desencorajaram a prosseguir, do que sua viajem épica.

A última pessoa a ver o jovem com vida, o eletricista Jim Gallien, afirmou à Krakauer que o equipamento de Chris não passava de 12 quilos, sua espingarda era pequena e nada poderia fazer contra um urso, suas botas não eram impermeáveis e que ele não possuía
sequer um mapa detalhado da região.

Apesar das inúmeras provas de que a incursão ao Alaska foi um fracasso pelas inúmeras falhas de planejamento de seu protagonista a revolta surgida contra a morte prematura de MacCandless é na verdade frustrante. Após conhecermos sua trajetória todos gostaríamos de vê-lo retornando triunfante para contar a própria saga.

Estúpido ou genial, idealista ou inconseqüente, a história de “Na Natureza Selvagem” é uma aula sobre a vida, sobre momentos e pensamentos que todos nós tivemos um dia.



O auto-retrato encontrado com MacCandless, que encerra o filme de Sean Penn, mostra um aventureiro sorridente apesar da fome, apesar das privações e das dificuldades, mostrando estar ciente de suas escolhas e conseqüências. Seu olhar não tem um pingo de remorso ou arrependimento.

 “Eu queria movimento e não um curso calmo de existência. Queria excitação e perigo e a oportunidade de sacrificar-me por meu amor.”Sentia em mim uma superabundância de energia que não encontrava escoadouro na vida tranqüila”.

Como na citação sublinhada no livro de Tolstói, “Felicidade Familiar”, encontrado no local da morte de Chris, percebemos que nada poderíamos fazer para impedir um jovem determinado a encontrar sua forma de felicidade mesmo que isso lhe custasse a vida. A força natural mais exuberante da história é a determinação.


(Na foto, Chris durante a infância com seus pais e sua irmã)

4 Comentários:

Anônimo disse...

incrivel esse post, uma incrivel alma que se foi para deixar um recado a todos nós!

Anônimo disse...

Fiquei fascinado com o filme chorei muito pois o final e muito emocional depois do filme que achei tao fascinante fui atras de sipnose e algum vestigio da historia e e elenco e tudo relacionado a historia e emfi achei essa pagina.
Ao ler essa pagina me emocionei novamente !
Me chamo : Raphael Mendes.

José Pereira Pardim disse...

Uma história emocionante de um jovem um tanto estúpido, mas muito corajoso. Sem duvida uma história emocionante. Fascinante!

Ana Paula B.M.Oliveira disse...

fique emocionada com o filme, a estupidez e a teimosia do Cris e comum aos jovem também, pergunto, valeu apena abrir mão de tantas coisas que poderia ter vivido se tivesse voltado quando ainda era tempo?

 
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