Meu Brasil Brasileiro
Mulato inzoneiro
Vou cantar-te nos meus versos
Brasil, samba que dá
Bamboleio, que faz gingar
O Brasil do meu amor
Terra de Nosso Senhor...
Mulato inzoneiro
Vou cantar-te nos meus versos
Brasil, samba que dá
Bamboleio, que faz gingar
O Brasil do meu amor
Terra de Nosso Senhor...
(Ary Barrosso)
Recentemente parei para analisar com mais calma as linhas deste espaço reservado a cultura, e sinceramente... Fiquei com raiva de quem escreve!
Cadê a musica nacional ? Cinema Nacional ? Literatura nacional ? Sem intenção acabei engrossando a lista daqueles que desprezam a rica cultura tupiniquim e exaltam a produção estrangeira. Está por aqui mas em minoria em relação aos colegas além fronteira.
Não pretendo agora me tornar um patriota extremista, longe disso. Não vou ignorar que muita coisa de qualidade surge lá fora e tem que ser mostrada, mas o que me incomoda é que fica a sensação que enxergamos a grama do vizinho sempre mais verde.
Vivemos uma época, onde principalmente a juventude cosmopolita, não conhece a cultura brasileira. Quando assistimos no noticiário neonazistas espancando um grupo de garotos emocore, devemos nos perguntar: aonde surgiu isso? Não criamos a suástica nem seus preconceitos e ainda por cima importamos um “movimento” que virou febre entre nossos adolescentes, que agora se vestem de preto e falam sobre rock sensível, sem saber as origens disso tudo. No Brasil colhemos os frutos do quintal alheio.
E isso não é de agora. Com exceção talvez da Bossa Nova, da Tropicália e da Jovem Guarda, nenhum grande movimento nacional se tornou tão popular quanto os internacionais que aqui desembarcaram. O punk, o grunge, o metal, todos esses movimentos de DNA estrangeiro já tiveram seus grandes momentos em terras brasileiras, e muitos deles continuam a manter alguns fiéis seguidores espalhados aqui e ali.
O mais preocupante é que as principais “vítimas” desse processo de internacionalização em terras nacionais são aqueles que teoricamente tem mais acesso a cultura. Os moradores das grandes capitais, ou das regiões Sul e Sudeste, as classes A e B, são os primeiros a adotar novos modismos e firulas em língua estrangeira, a colocar entre os mais vendidos o livro do escritor inglês fulano e a ouvir no último o som techno-eletro-dance dos franceses. Se um dia a guerra cultural apertar temos ainda alguns abrigos seguros como o Norte e o Nordeste que ainda resistem de certa forma aos estrangeirismos à base de muito Forró, Axé e Baião. Talvez a Lapa e alguns redutos do samba.
Ás vezes, esquecemos de algumas referências indiscutíveis que possuímos. Porque supervalorizamos Bob Dylan, se temos Chico Buarque de Hollanda? Um trovador tão competente quanto; ainda em atividade, com uma produção musical indiscutível, ótimas peças de teatro e quatro livros lançados.
E por falar em livro, por quê é chato ler Machado de Assis e é tão bom ler Shakespeare? Alguém por aí já ouviu falar de João Antônio? Enquanto Jack Kerouac viaja pelos subúrbios dos E.U.A em “On The Road”, João Antônio fala sobre nossa ralé, guardadores de carros, viradores, prostitutas, leões-de-chácara, e jogadores de sinuca em uma prosa rica e elaborada.
Ah! E ainda tem aqueles que se recusam a enxergar o óbvio! Por que a bonitinha roqueira que hoje se destaca entre os jovens “indie”(mais uma forma estrangeira de falar “independente), fala tanto em inglês e canta lendas do folk rock e southern rock ?
Simples porque não sabe ou se recusa a entender que aqui tivemos, por exemplo, Sá, Rodrix e Guarabira, que faziam por essas bandas o mesmo que Crosby, Still and Nash faziam lá fora. Pink Floyd, Emerson Lake and Palmer, e tantas outras bandas de talento indiscutível faziam experimentações e criavam um rock tão psicodélico quanto os Mutantes e o Secos e Molhados. Se os ingleses tem o chamado Brit-Pop, temos o suburbano Mangue-Beat.
Não vou falar de Bossa Nova, que é covardia. Todos sabem que até os gringos se ajoelharam ao violão de João Gilberto, ao Piano de Jobim, a bateria de Milton Banana e a poesia de Vinícius.
E o cinema ? Claro muitos cinéfilos falam de boca cheia de Rosselini, Pasolini, Truffaut e esquecem Glauber Rocha. Assista “Deus e o Diabo na Terra do Sol” para ver uma aula de cinema sem recursos.
Alguns brasileiros desenvolveram também o hábito de serem preconceituosos com a produção nacional. Muitos torcem o nariz para música sertaneja raiz, baião, axé, pagode e tantos outros gêneros que não são “cool” o bastante para a galera que houve emocore, rock e pop. Outros se entregam ao “cinema-pipoca-acéfalo-sem conteúdo”, mas cheio de efeitos especiais, em detrimento das produções nacionais que obviamente se apresentam mais modestas e sem as parafernalhas de Hollywood. Perderam nos últimos anos, por exemplo, os ótimos “Amarelo Manga”, “O Homem que Copiava”, “O Cheiro do Ralo”, “Cinema,Urubus e Aspirinas” entre outros.
Por isso precisamos que os brasileiros salvem o Brasil. Que tenham orgulho de Tião Carreiro, um monstro da viola que inventou a música sertaneja que conhecemos hoje. Que lembrem de Glauber Rocha, de Machado de Assis e os respeitem, que os indiquem aos seus melhores amigos. Precisamos de novos Gonzagas e Buarques na música, escritores como Lima Barreto, poetas como Manuel Bandeira, uma nova safra para encher de orgulho o brasileiro desmotivado que olha para fora quando pensa em cultura. Não podemos continuar vivendo no Brasil sem sermos brasileiros em primeiro lugar.
Encerro com a licença poética de Vinicíus. A bênção Cartola, Pixinguinha, Noel. A bênção Jorge Amado, Graciliano Ramos e Mario Quintana. A benção Nelson Pereira dos Santos, Anselmo Duarte, Fernando Meirelles e Walter Salles. Saravá ! A benção que eu vou partir !
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