quarta-feira, março 23, 2011

O Sonho de A Origem e a Realidade de Matrix.





E se o que estivéssemos vivendo não fosse real?

Um sonho difícil de acordar onde as leis da física são manipuláveis e o conceito de tempo e espaço se confunde com o que somos e para onde vamos. Dúvidas filosóficas, metafísicas, espirituais e um flerte com a morte real ou imaginária, a vida física palpável com nervos e fibras se esvaindo em sangue ou a morte potencial da alma, do cérebro, da sanidade...

A dor apenas um impulso elétrico independe do dano real causado em nossa estrutura, uma falha de software e não(necessariamente) de hardware , diria o aficionado em computadores.

Gostaria de estar falando de “A Origem” novo filme do genial e competente diretor Christopher Nolan, mas sinto estar falando de Matrix. Infelizmente estou falando de ambos.

Um elenco afinado, incluindo um Leonardo Di Caprio que segura a onda como protagonista, após se graduar na "escola Scorcese de artes dramáticas", consegue direcionar o público sem rodeios para o que interessa, a história. Contando ainda com uma câmera impecável, edição de som e imagem soberbas, fotografia inspirada e um final tão previsível quanto desnorteador... Sem dúvida não estamos falando aqui de qualquer coisa, de mero entretenimento, mas de 140 minutos que valem cada décimo de segundo.

Filme para raros paladares, sendo que muitos não conseguirão entender quase nada do roteiro construído em minúcias sem a preocupação de voltar atrás para explicar o que aconteceu. Fique atento porque cada detalhe é necessário para não perder a fina linha de raciocínio que liga o início ao fim do filme de uma forma soberba, quase imperceptível.

O que falta então para “A Origem”? Com o perdão do trocadilho: originalidade.
A densidade da história não faz com que ela seja inédita. Que pena.

E estamos falando de um ótimo roteiro. Imagine uma realidade aonde dormir pode ser perigoso. “Ladrões” de sonhos que invadem o seu sono podem roubar informações valiosas enquanto seu subconsciente luta para defender informações que você considera confidencial. Existem “arquitetos” que criam as projeções, as cidades em forma de labirinto que serão “povoadas” pelos sonhadores. Existem totens, objetos individuais que são a garantia de cada um para distinguir a realidade do sonho; e claro o desafio que dá nome ao filme. “Inception”, porcamente traduzido como “A Origem”, seria na realidade o ato de “plantar” uma idéia em uma mente para que ela se desenvolva e de origem(agora sim) a um pensamento. Roubar uma idéia é simples, criar uma não. Imagine tudo isso dividido em camadas, sonhos dentro de sonhos, em uma grande confusão sobre o que é real e o que não é.

Por mais que tudo isso pareça grego, quando assistimos vêm, quase que automaticamente, uma sensação de familiaridade... Lembrei de “Cidade das Sombras”, Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças” mas é inegável que estamos falando novamente de “Matrix”, talvez o maior expoente moderno de cinema e pesadelo para qualquer roteirista que tenta escrever algo original sobre ficção científica. 

Não tem como evitar comparações. Podem tentar numerar diferenças de um a mil, mas o que salta aos olhos são as semelhanças de um dez que sejam. 

O Sonho de A Origem não é diferente o suficiente da realidade projetada na Matrix.
Do movimento de câmera ao roteiro. Por um motivo ou outro existem sonhos, nos sonhos pessoas que “escalam” paredes e trocam mais balas que em uma realidade normal, existe ação, mas ela é apenas a cereja do bolo, existe suspense, reviravoltas, e o questionamento recorrente se a transição entre real e imaginário já aconteceu ou está por vir. Mais do mesmo.

Não quero que entendam mal. Existe muita originalidade no longa de Nolan e também competência na sua direção de cena e sobretudo de atores. Para citar apenas um dos pontos fortes, perceba o amadurecimento característico de sua câmera capaz de transformar fantasia em cinema adulto, como fez antes com “Batman Begins”, “Cavaleiro das Trevas”e “O Grande Truque”. Em “A Origem” não existe bem e mal, nem certo ou errado. Por mais que as situações sejam absurdas as personagens são absolutamente críveis, com desvios de caráter, egoísmo e reações que combinam mais com vilões que com mocinhos. Não existem exageros estéticos, nem malabarismos desnecessários.

Sem apontar este ou aquele como superior fica aqui a certeza de estarmos falando sobre dois filmes extraordinários.

É claro que a idéia original sempre vai levar o crédito e talvez seja isso que impeça “A Origem” de atingir todo seu potencial como a obra cinematográfica que é, mas não representa.
Não adianta voarmos hoje em aviões supersônicos, o primeiro foi o 14 Bis e seu inventor foi Santos Dumont. A história não perdoa, ela registra.

Confesso que torço para que novos filmes apareçam trazendo propostas e roteiros acachapantes, com cheirinho de carro novo, mas aprendi que não é todo dia. Vi surgir “Matrix” e de lá para cá já são 12 anos de citações e comparações quando o assunto é ficção científica.

Quem conseguiu entender “A Origem” com certeza fará parte de uma pequena minoria que, assim como eu, sofre por dentro imaginando como seria lendário se sua estréia fosse em 1998 e não em 2010.


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