domingo, março 06, 2011

A Morte de Bob Dylan

 Texto publicado originalmente em 31 janeiro de 2009


The line it is drawn
The curse it is cast
The slow one now
Will later be fast
As the present now
Will later be past
The order is
Rapidly fadin'.
And the first one now
Will later be last
For the times they are a-changin'.

(The Times They are Changing, Bob Dylan)






Ao olhar descrente para a produção musical atual, sem forma ou conteúdo e sobrevivendo aos trancos com meia dúzia de talentos que produzem um disco a cada seis anos, imagino, com certo pieguismo admito, a vida que não vivi nas décadas passadas. Décadas onde grandes artistas surgiam em pencas e gravavam dois álbuns por ano, com medo que a próxima guerra ou revolução destruísse o mundo. Décadas onde nasceram ídolos mortais que duram até hoje como referência sem serem substituídos ou destronados por gerações e mais gerações de músicos que jogaram a toalha e gritaram: Desisto!

O mito é eterno meus amigos, mas a carne é mortal. A cada dia assistimos ,pouco a pouco, os “reis” de nosso tempo morrerem sem um herdeiro direto para seu trono. Esse súbito amargor me fez refletir esta semana sobre o dia em que o mundo da música amanhecerá diferente, usando o mais cafona dos clichês. Para mim, este dia seria assim.

Hoje sexta-feira dia 6 de fevereiro de 2015 morre a música norte-americana.

Nascido longe de onde deveria, se mudou para a rua muito jovem onde foi adotado por Muddy Waters que o ensinou como não cantar suas músicas. Atravessou os Estados Unidos e leu On the Road, antes de ser escrito por Jack Kerouac. Passou a tocar tamborim em 1963, o que lhe rendeu o apelido de Mr. Tambourine Man.

Uma fixação crescente pelo circo fez com que se tornasse mágico criando o truque de cantar com uma gaita na boca.

Cantou Blowing in The Wind.

Compôs mais de 800 bandas e 38 estilos.

Não criou nenhuma música sozinho. Wood Guthrie passou a morar com ele no início de sua carreira dividindo o lado esquerdo de seu cérebro com mais 40 músicos desconhecidos de Minesotta.

Liderou um motim ao explodir o Festival Folk de Newport em 25 de julho de 1965, usando apenas uma guitarra elétrica. Na Highway 61 foi chamado de Judas, por uma pitonisa que percebeu que a salvação dependia de sua traição aos puritanismos desplugados da época.

Imaginou tão forte uma voz feminina para cantar suas composições que deu vida a uma cantora imaginária chamada Joan Baez, que até hoje aparece em alucinações coletivas tocando um violão à capela. Em 1966 sofreu uma tentativa de assassinato, quando um acidente de moto em Desolation Road, impediu que sozinho vencesse os 4 de Liverpool na Guerra Fria entre E.U.A e U.K. , que dividia a hegêmonia da música mundial na época.

Reuniu um conjunto de músicos que ficou conhecido como "The Band", neologismo que passou a ser sinônimo de grupo musical.

Casou-se todas as vezes que podia e se divorciou o mínimo possível. Converteu-se ao cristianismo em 1977 confundindo os fiéis que o seguiam. Em 1981 abandona o gospel e é reconvertido a música. Volta a tocar em bandas junto ao Grateful Dead e ao Traveling Wilburys trazendo a tona antigos vícios.

Na década de 90 ao comemorar 30 anos de carreira volta a usar folk, country e outros analgésicos que diminuíam a dor de cabeça do mundo. A partir de 2000 sua carreira volta ao topo das paradas. Viaja no cinema de Scorcese e expõe 174 aquarelas pintadas em 1994. Foi internado semana passada e lutou contra o vício crônico da composição que manteve até suas horas finais. Robert Allen Zimermman morreu aos 74 anos , sem que as enfermeiras reconhecessem seu nome no prontuário.

No enterro, Mick Jagger cantou Like a Rolling Stone para uma multidão comovida.

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